21 março, 2010

Rui Mendes*




TRÊS FRAGMENTOS FURTIVOS

2.1

E no usufruto das clareiras que rasgamos por toda a parte dos estandartes que desfraldámos até às vertentes dos muros e das amuradas esse homem de novo começa a cantar fragor de sarças alteando a sombra dos ombros passos e pássaros na descarga do limiar das noites e dos dias para outros promontórios escarpas e falésias e as gadanhas movendo a substância putrificada dos presídios e das mansões e a e cor liminar das laranjas do mar e o azul ameríndio do céu tudo por assim dizer que enchesse como um frémito o varejado leito dos rios as augustas estrelas das montanhas as doces romãs dos declives do mar e o calor tangível das casas macerando folhas de acanto cálamos lírios lagos que se afundam pelos caminhos


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*Rui Mendes, poeta, activista sócio cultural e consultor editorial, nasceu na Baixa Coimbrã.

Eis alguns fulcros escolhidos da sua biografia.

1
Em 1958, fundou e coordenou, com Eduíno de Jesus e João Vário, o JORNAL DE POESA, mensário que, de imediato, foi mandado destruir pela censura salazarista.

2
Em 1961 fundou com João Vário a revista Êxodo, (coordenada por João Vário, L. Serrano e por si) – marco indelével da nova poesia portuguesa.

3
Em 1964, foi-lhe atribuída uma «Bolsa para Jovens Escritores» pela, então, Sociedade Portuguesa de Escritores, hoje – APE (Associação Portuguesa de Escritores).

4
Em 1974, fez parte, como dirigente do Clube de Cinema de Coimbra, da extinta Comissão de Coordenação da Região Centro das Campanhas de Dinamização Cultural do MFA – Movimento das Forças Armadas.

5
Em 2003, foi o autor de O Fulgor da Língua, plataforma de criação colectiva no ciberespaço de o mais longo poema, o estado do mundo, no âmbito de COIMBRA CAPITAL NACIONAL DA CULTURA.

6
Publicou dois cadernos de poesia, em edição não venal, CANTOS e CANÇÃO.

*
Poemas e textos seus estão editados em Antologias e/ou Revistas e/ou Jornais, aqui, no Brasil e em Espanha.