16 março, 2010

Cristina Néry*


 


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¶ junto às picaretas ¶
¶ chegada aqui ¶
¶ nos gomos da tangerina ¶
¶ onde as roldanas se restituem ¶
¶ nas células atentas à respiração dos alvéolos ¶
¶ a partir do casco dos planetas fracassados ¶

“quem diz tudo foi desvendado
pelos meridianos e jardins mortíferos
que o leopardo • é uma localidade-de-circunferências”

¶ pela colheita das fagulhas

resvalo na pele das saias lilases as patas dianteiras
encontro os colchetes
e o sapato branco para perfeita sepultura.
pelo cortejo das algas bem escavadas a meu favor
vergo o crânio das víboras passo-lhes a língua como se tisanas
a cerzir a metáfora completa.

[era o silêncio festivo da lua que fazia abrir as árvores]

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*Cristina Néry, licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, pela Universidade de Coimbra, é investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra desde 2007, actualmente no Projecto – “Novas Poéticas de Resistência: o século XXI em Portugal”, sob coordenação da Prof.ª Doutora Graça Capinha.
Membro do Grupo “Oficina de Poesia”, desde 1995, realizou várias leituras públicas, no âmbito do grupo, como autora e a convite de poetas nacionais e internacionais, dando apoio à equipa da organização dos Encontros Internacionais de Poetas em Coimbra.
Em 2005, publicou o seu primeiro e único livro de poemas intitulado O Ciclo das Sedas, Palimage: Viseu e colaborou com o encenador Celso Cleto para teatro, traduzindo a peça levada a cena A Educação de Rita, de Willy Russel e escrevendo Monólogo para Mariana Alcoforado, publicado na revista Oficina de Poesia (Palimage).