21 março, 2010

Graça Magalhães*





Quando a luz rasgar os frutos
e vier a manhã
e um estranho se sentar ao teu lado
toma o nome das romãs
diz-lhes que sou árvore
que vem de fora um pássaro para me ouvir
põe uma cadeira ao meu lado
senta-te, deixa-me colher a luz.

Trabalho a partir do nascente
da palavra soprada como vento no corpo.

Reúno silêncios, sangue, caule
o harpejo dos pulmões.
Os remoinhos por onde passaste
são trevos cardeais.
Abandono-me para dormir
onde se pode florir no lugar de padecer
peneiro cada sílaba de terra
o desabrigo de qualquer pontuação calada.

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*Graça Magalhães nasceu em Moçambique, onde passou a infância.
Estudou em Coimbra onde concluiu licenciatura e mestrado em Ciências da Educação na Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra.
Exerce em Viseu a profissão de educadora de infância e colabora como professora numa instituição de ensino superior na mesma cidade.
Tem poemas publicados em diversas Antologias e Revistas on line e impressas, de que destaca a Revista Oficina de Poesia.
Publicou na Palimage os livros:

Corpo de Rio – 2005
Na Memória dos Pássaros – 2006
Lavrar no Corpo das Algas – 2008
A Geografia do Tempo - 2009