27 março, 2010

António Inverno - Pintura














Prémio MAC'2009 - Carreira:
"A par de uma notável actividade profissional que lhe deu projecção nacional e internacional, coexiste um pintor, igualmente notável, empenhado na busca de uma expressão plástica, receptiva ao grande e pequeno mundo que o rodeia.
Indagação plástica, cromática e formal, mas indagação humana também, a marca que mais o distingue de tantos outros artistas que embrenhados no seu mundo não assistem ao mundo que os rodeia.
Singular no companheirismo e generosidade para com aqueles que procuraram o seu talento, seja na serigrafia, seja na pintura, António Inverno é, no fundo, um contador das “estórias” da Arte Portuguesa, o mestre dos grandes, que hoje merecidamente distinguimos com o Prémio MAC`2009 Carreira, não só pela dimensão estética da obra, mas também pela dimensão ética do Homem." 



António Inverno





1944 - Nasceu em Monsaraz, a 27 de Outubro.
1956 - Chega a Lisboa.
1958 - Matricula-se na Escola António Arroio.
1964 - Conclui o curso de Gravador Litografo. Teve como principais mestres, Roberto de Araújo, Manuel Lima, Estrela Faria e Abreu Lima. Trabalha, entretanto, no atelier de Jorge Barradas na Fábrica da Viúva Lamego.
1966 - Segue para a Guiné em serviço militar começando, entretanto, o seu contacto com Africa.
1968 - Regressa a Lisboa. Trabalha com Rogério Ribeiro e Mário Rafael. Colabora na decoração de interiores do edifício da actual sede da Gulbenkian.
1969 - Ingressa na equipa de Thomas de Mello, no sector gráfico na Feira Internacional de Lisboa.
1970 - Colabora na "Seara Nova" onde promove edições de serigrafias de artistas portugueses contemporâneos.
1971- Instala um atelier na Avenida 5 de Outubro. Realiza maquetas, destinadas a publicações de vários organismos e empresas.
1972- Inicia a actividade de serígrafo. Cria um atelier exclusivamente consagrado à serigrafia na Avenida Conde Valbom. Colabora com Júlio Pomar, Vespeira, Charrua, Espiga Pinto. Eduardo Nery. Maria Keil, Francisco Relógio, Jorge Vieira, Costa Pinheiro, Eurico Gonçalves entre outros.
1973 - Sócio fundador do Centro Comunicação Visual A.R.C.O.. Aluga um espaço na Rua da Emenda onde (ainda permanece) no qual prossegue a sua carreira como serígrafo.
1974 - Participa através do País nas Campanhas de Dinamização Cultural. Tem parte activa na elaboração de cartazes e organização de espectáculos teatrais e musicais. Esta acção prolongou-se até 1975.
1976 - Membro fundador do Centro Cultural de Almada.
1977 - Organiza e lecciona cursos de serigrafia através de quase todo o país, destinados a professores de Educação Visual, bem como a animadores ligados às autarquias. Esta acção prolongou-se até 1979.
1982 - No âmbito do intercâmbio com África efectua sucessivas viagens, sendo entretanto solicitado, e entre outras tarefas, para seleccionar jovens artistas aos quais são atribuídos bolsas de estudo nos principais centros culturais da Europa. Esta acção prolongou-se até 1985.
1986 - Forma novos colaboradores no atelier na Rua da Emenda. Dá assistência a bolseiros da Fundação Calouste Gulbenkian. Esta acção prolongou-se até 1990.
1993 - Criou o Centro de Serigrafia António Inverno.
1994 - Colabora em vários Centros Culturais no Alentejo, promovendo exposições de artes plásticas de âmbito nacional.
2001 - Criou o cenário para os estúdios da RTP Internacional. Convidado para criar e executar um painel da estação do metro do Arteiro.

Principais Exposições Individuais
1985 - Galeria Atelier 2.
1987 - Pintura – Galeria Barata, Lisboa. 1990 - Clube Taurino Vila-franquense.
- Pintura – Galeria Artela, Lisboa. 1991 - Centro Cultural de Santarém.
1992 - Monsaraz Museu Aberto.
1993 – Galeria - Bar Sintra .
1995 - Galeria Municipal da Amadora.
1996 - Exposição comemorativa 25 Anos de Serigrafia, Palácio Galveias Lisboa.
- Exposição comemorativa 25 Anos de Serigrafia, Club Setubalense e Academia de Música e Belas-Artes de Setúbal.
1997 - Galeria São Francisco.
1998 – Cultur art (Foyer Européen).
Galeria Municipal da Amadora. Galeria Municipal de Setúbal. Galeria C.M. Funchal.
Galeria Bento Teresa Sargento, V. V. Ficalho.
1999 - Centro Cultural de Santarém.
Escola Secundária Alves Redol, V. Franca de Xira. Cine Teatro de Serpa. Galeria Artela, Lisboa.
2001 - Centro Cultural de Santarém. ArtEmpório Galeria, Lisboa.
2002 - SeteComArte Galeria. - Galeria c@fé, Serpa.
2003 - Pintura Galeria ArtEmpório.
2003 - Pintura – Instituto de Saúde Mental, Setúbal.
2003 - Pintura – Galeria C.M. Salvaterra de Magos.

Principais Exposições Colectivas
1985 - Pintura - Galeria Novo Século, Lisboa.
1986 - Pintura - Galeria São Bento, Lisboa.
1987 - Pintura - Salão de Pintura Contemporânea, Sesimbra.
- Galeria Atelier 2, Lisboa.
1988 - Galeria Mirón, Lisboa.
1992 - Galeria de Setúbal.
- Pintura - Câmara Municipal de Torres Novas.
1994 - Pintura - Centro Cultural de Barrancos.
Núcleo de Artes de Setúbal.
Pintura Soc. Coop. de Grav. Portuguesa.
Pintura - Museu Alberto, Monsaraz.
Homenagem a Estrela Faria.
Pintura Junta Freg. de Casais (Apoio a Bombeiros).
1995 - Pintura - Galeria de Vila Franca de Xira - Homenagem a Victor Mendes.
1997 - Galeria Movimento de Arte Contemporânea.
1998 - Galeria Leo. Porto.
- Palácio D. Manuel, Évora.
1999 - Galeria Movimento de Arte Contemporânea.
2000 - PriceWaterHouseCoopers / ArtEmpório Galeria, Museu
da Patriarcal, Lisboa.
Castelo de Beja.
Galeria Samora Correia. 2001 - Galeria EDIA.
ArtEmpório Galeria, Lisboa.
Galeria da Direcção Geral da Administração da Justiça.
Galeria Municipal de Moura.
2002 - C.M. de Morforte. 2002 - Galeria de Morsaraz.
2003 - XVIII Jornadas dei Património de Ia Comarca de Ia
Sierra, Huelva Espanha.
2003 - Galeria Vila Franca de Xira - Semana de Cultura Taurina.
2003 – Centro de Arte Contemporânea da Amadora

BiografiaCitado em obras sobre Vieira da Silva, Manuel Cargaleiro, Maluda, Júlio Pomar, José Guimarães, entre outros artistas a propósito das serigrafias que executou.

Referências Criticas
Eurico Gonçalves, José Luís Porfírio, António Valdemar, Rui Mário Gonçalves, João Pinharanda, Margarida Botelho, Alexandre de Melo, Mário de Oliveira, etc., sobre actividade de serígrafo e de pintor.

Homenagem e Condecorações
Membro efectivo da Academia Nacional de Belas-Artes.
Homenagem, em 1986, na Galeria de S. Bento, por numerosos artistas ligados à serigrafia e a outros domínios da criação plástica.
Comendador da Ordem do infante D. Henrique.
1995 - Prémio nacional de Pintura da Academia Nacional de Belas-Artes.
2009 - MAC'2009 Prémio Carreira.


Maria João Franco - Pintura














MAC`2009 Prestígio
"Contar o nosso percurso passa por reconhecer o mérito daqueles que se envolvem no nosso projecto, tornando público o nosso reconhecimento a todos quantos desde o início perceberam e colaboraram no objectivo comum do nosso projecto.
Uma vez mais, este ano, distinguimos de entre os artistas que connosco colaboram aquela que, pela disponibilidade demonstrada em todos os contactos estabelecidos, pela maneira desinteressada com que divulgou e promoveu as nossas actividades, actualizando grande parte da informação referente a este espaço, se assumiu como uma colaboradora incansável.
Pela generosidade demonstrada, que nos merece profunda gratidão, distinguimos com o Prémio MAC`2009

Prestígio a Pintora Maria João Franco." in MAC - Movimento de Arte Contemporânea


25 março, 2010

Artistas Plásticos




Maria João Franco nasceu em Leiria em 1945. Tem o curso de Pintura da Escola de Belas Artes de Lisboa.
Frequentou o curso de Arquitectura de Belas Artes do Porto.
Comenda e Medalha de Mérito e Cultura atribuído pela Associação de Artistas Plásticos e Desenho Brasileiros.
Desde 1982, participou em várias exposições colectivas e, a partir de 1985, realizou diversas exposições individuais quer em Portugal quer no estrangeiro.
Em 1997 executou um cartão de tapeçaria para Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, cujo 1º exemplar faz parte do acervo do Sr. Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio.
Fez parte do júri do concurso “32 Jovens Pintores” com o Alto patrocínio da Presidência da República Portuguesa integrado nas Comemorações do 10 de Junho de 2000-Dia de Portugal.
Trabalha como artista convidada em cerâmica artística na Keramos – Condeixa.
Convidada pela Foundation for the Support of Monestery Bentlage para participar no
International Summer Workshop em Rheine – Alemanha Agosto 2005.
Em 2005 executa um painel alusivo a “O Motim” de Miguel Franco inserido no Teatro Miguel Franco em Leiria.
Funda em 2006 o jornal on-line “Casamarela5b & ARTS” em homenagem ao Pintor Nelson Dias. www.casamarela5b.com
Está em estreita colaboração com as actividades culturais e artísticas do MAC-Movimento Arte Contemporânea, Lisboa.

Prémios:1987 – Prémio de edição na “IV Exposição Nacional de Gravura” – Gravura/Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa;
/1º Prémio do concurso de Gravura Integrado no Ano Europeu do Ambiente - Setúbal/Beauvais;
/2006- Prémio MAC’2006 Carreira – MAC - Movimento Arte Contemporânea – Lisboa;
/2007- Prémio MAC’2007 Prestígio – MAC- Movimento Arte Contemporânea – Lisboa;
/2009- Prémio MAC’2007 Prestígio – MAC- Movimento Arte Contemporânea – Lisboa;

Representações:Está representada nas seguintes instituições:
Museu de Setúbal;
Cooperativa dos Gravadores Portugueses, Gravura em Lisboa;
Colecção da Caixa Geral de Depósitos, Lisboa;
Museu Armindo Teixeira Lopes, Mirandela;
Acervo da C.M. Lisboa, Coimbra, Amadora e Abrantes;
Colecções particulares em Portugal, Itália, Espanha, França, Suíça, Brasil, EUA e Holanda.


22 março, 2010

Escritaria // António Castanheira - cineasta



( Curta metragem de vinte minutos sobre a primeira edição da Escritaria em Penafiel dedicada a Urbano Tavares Rodrigues. Realizada por António Castanheira, produzida pela Escritaria e integrada nos extras do DVD Memória das Palavras - Urbano Tavares Rodrigues publicado pelas Edições Cão Menor ).


Cineastas // Adão Contreiras




( Adão Contreiras - 16 de maio de 2009 — Encontro de Escritores Hispano - Lusos / EDITA 2009. Projecto Palavra Ibérica, Punta Umbría. )


21 março, 2010

Torquato da Luz*





Presença



Entra-me em casa o murmúrio do mar
e ao fim da tarde assoma na janela
uma gaivota que me vem deixar
a mensagem mais simples, mais singela,
que podia na vida desejar:
esta certeza de que estás comigo
mesmo quando te ausentas e eu invento
mil e uma formas de escutar no vento
o eco das palavras que te digo.

______________________________________________

*Torquato da Luz (Alcantarilha, Silves, 1943) é um poeta e jornalista português.
Formou-se em Ciências da Informação pela Universidade Católica Portuguesa. Foi jornalista do "Diário de Lisboa", colunista de "A Capital" e director do "Jornal Novo", de "A Tarde" e do Canal 2 da RTP-Radiotelevisão Portuguesa.
Leccionou Deontologia da Comunicação no ensino superior.
Integrou o Conselho de Imprensa e a Alta Autoridade para a Comunicação Social.

Livros publicados
"Os Poemas da Verdade", 1963;
"O Homem na Cidade", 1968, col.;
"Voz Suspensa", 1970;
"Lucro Lírico", 1973;
"Choque de Alegria", 1975;
"A Porta da Europa", 1978;
"Destino do Mar", 1991;
"Deserto Próprio", 1994;
"Ofício Diário", 2007;
"Por Amor e outros poemas", 2008.

Figura nas seguintes recolhas de poesia, entre outras:
"Vietname", Editorial Nova Realidade, coordenação de Carlos Loures e Manuel Simões, Porto, 1970; "Poesia 70" e "Poesia 71", Editorial Inova, Porto, selecções, respectivamente, de Egito Gonçalves/Manuel Alberto Valente e Fiama Hasse Pais Brandão/Egito Gonçalves, 1971 e 1972; "Caliban 3/4", edição e coordenação de J. P. Grabato Dias e Rui Knopfli, Lourenço Marques (actual Maputo), 1972; "800 Anos de Poesia Portuguesa", Círculo de Leitores, organização de Orlando Neves e Serafim Ferreira, 1973; "Algarve todo o mar", colectânea organizada por Adosinda Providência Torgal e Madalena Torgal Ferreira, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2005; "De Luz e de Sombra", antologia poética, Papiro Editora, 2008; "Os Dias do Amor", antologia organizada por Inês Ramos, edição Ministério dos Livros, 2009.

ReferênciasGonçalves, Ilena Luís Candeias. Escritores Portugueses do Algarve. Edições Colibri, Lisboa, 2006


Teresa Tudela*




À cautela


À cautela
imitar os girassóis em cada vela

dar moinhos à farinha
e um nome à estória

lavar raízes de glicínias
e a cabeça aos vendavais

por conta das mantas rotas
da montada
massajar os cascos ao jumento
frente às frinchas
da muralha

a escumalha
espreitá-la de viés a ver
se engole ainda
fantasmas fritos
em óleo de soja modificada

há que ter recato
na montanha

rever sermões
antigos

beber limões
verdes
espremidos

ser de cá
em coisas vãs e estranhas

ser de lã
em coisas duras
como unhas

ser de distâncias nenhumas
enquanto se fia o linho
das manhãs
na harpa inaugural
deste eixo polido que somos
tangente ao eclodir
de novos dias
novos pomos
maduros nos ramos úberes
do éden
filhas não mais procrastinadas de Eva
herdeiros de corpo inteiro
de um mapa adâmico
liberto de arcas acorrentadas

asas de anjos
a bulir levemente
a túnica lisa do lago

um afago
e a mais pura perseverança
herdada intacta das romãs

no tempo
até as mais duras rochas se enternecem

e caem de joelhos
em dobras de água
na orla porosa da praia

vai haver hora

de colher o fruto
sob o olhar doce do cosmos

de apagar o espaço
com um risco de cauda de cometa

de apagar o tempo
com um frémito
de borboleta

e à cautela
entretanto
imitar os girassóis
na precisão exacta
da rota

______________________________________________

*Teresa Tudela nasceu na cidade do Porto. É mestre em Língua, Literatura e Cultura Inglesa, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade do Minho.
No seu percurso literário mais recente, a autora reúne em volume Sete Transmutações da Casa, Editora Ausência, Porto, 2002.
Em 2006, publica T a Bernardim, na Campo das Letras, poesia acompanhada pelo dizer da autora, em CD oferecido com o livro.
Recebe o Prémio Litterarius para Poesia, Maio, 2006.
Conta com participações em publicações colectivas e on-line; no âmbito de Coimbra Capital Portuguesa da Cultura, participa em O Fulgor da Língua e no poema colectivo O Estado do Mundo; colaboração na tradução de poetas estrangeiros — Seminários da Casa de Mateus/Quetzal Editores; participações em colectâneas e antologias temáticas, designadamente Na Liberdade, Antologia Poética, Garça Editores, Peso da Régua, 2004; OS OUTROS, Antologia de Poesia Portuguesa: anos 80 e depois, Editora Ausência, Porto, 2004; Algarve todo o mar, Colectânea, Adozinda Providência Torgal e Madalena Torgal Ferreira (sob organização de), Dom Quixote, Lisboa, 2005; A Poesia serve-se fria!, antologia da II Bienal de Poesia de Silves, Silves, 2005; participação no número 0 da revista “Folium”, Penafiel, 2006; Uma Luz de Papel, Colectânea, Jorge Velhote, Luís Mendonça e Renato Roque (sob organização de), Edições Éterogémeas, Porto, 2007; Poem’arte, nas margens da poesia, antologia da III Bienal de Poesia de Silves, Silves, 2008; Os dias do Amor, Antologia de Poesia, Inês Ramos (sob organização de), Editora Ministério dos Livros, Lisboa, 2009; Divina Música, Antologia de Poesia sobre Música, Amadeu Baptista (sob organização de), Conservatório Regional de Música de Viseu, Viseu, 2009; só à noite os gatos são pardos, textos inéditos de autores contemporâneos, Jorge Velhote e Patrícia Pereira (sob organização de), Cantinho do Tareco – Associação de Protecção Animal, Maia, 2009.
No âmbito académico publica Propostas de Leitura para Generation X — algumas Implicações da Escrita/Comunicação Mediatizada por Computador, Politema, Porto, 2005, que resulta da sua tese de mestrado. Publica artigos em volumes e periódicos da especialidade e on-line, no domínio de Tecnologias Educativas, Women’s Studies e Cultura, nomeadamente, “Intertexts, Cytexts, a Body Online”, em Identity and Cultural Translation: Writing across the Borders of Englishness, Peter Lang AG, 2006; “Entendimento, sabedoria e arte – o contributo poético” em António Gedeão / Rómulo de Carvalho - Novos Poemas para o Homem Novo: Actas, Isabel Rio Novo e Célia Vieira (sob coordenação de), Edições ISMAI, Maia, 2009.
Participa com frequência em seminários, conferências, tertúlias e apresentações de livros. Recentemente, participou na Conferência Paisagem e Literatura, organizada pela Associação Portuguesa de Ecologia da Paisagem, no Jardim Botânico da Universidade do Porto, com a comunicação “Simbologia e Apropriação do Meio Natural”; participou em celebrações do Dia da Poesia (2005) em Foz Côa, Penamacor e S. João da Madeira; apresentou o livro Gestos Esquecidos de Fernando José Rodrigues, na FNAC Arrábida; o livro As Asas do Açor de Gabriela Funk, na Casa dos Açores no Porto; fez parte da Mesa Redonda que acompanhou a exposição O Caminho do Leve, de Ernesto Melo e Castro, na Fundação de Serralves; apresentou a comunicação “Entendimento, sabedoria e arte – o contributo poético”, na Conferência Internacional de homenagem a António Gedeão, Novos Poemas para o Homem Novo, ISMAI (2006); apresentou o livro Histórias que contei aos meus filhos de Fernando Nobre, AMI, Oficina do Livro, 2008, no Clube Literário do Porto; participou na sessão de lançamento da antologia Treze Poetas Eslovenos, Roma Editora, na Fundação José Rodrigues, a convite do PEN Clube Português (2008); participou no Ciclo de Conferências Diálogos com a Ciência, na sessão Poesia e Ciência, na Reitoria da UP (2009); participou em tertúlia na Biblioteca da Casa Museu Abel Salazar (2010); em sessão de lançamento do Clube de Escritores da Edita-me, Labirinto (2010).
Durante alguns anos, manteve-se ligada à formação de professores, à profissionalização em exercício, a tecnologias de informação e comunicação em exploração educativa, à concepção de software educacional e a projectos e aplicações multimédia, nomeadamente o programa GEOPORT, 1º prémio no VI Concurso Nacional de Software Educacional, DEPGEF, M. E., 1995. Foi sócia fundadora e presidente (1992, ss) da APCL (Associação Portuguesa de Computadores e Línguas). Dirigiu o Departamento Multimédia do Instituto para o Desenvolvimento Tecnológico (1998 – 2001) e dirigiu a Unidade de Cultura do Instituto Superior de Engenharia do Porto (2001 – 2006). Paralelamente, é sócia fundadora do Instituto Verney para o Conhecimento, foi co-responsável pelo Projecto Jardim de Sophia (UP) e autora do sítio Mulheres Portuguesas do Século XX, em linha desde 2000, em: http://www.mulheres-ps20.ipp.pt (ainda online, mas de momento temporariamente descontinuado).


Rui Mendes*




TRÊS FRAGMENTOS FURTIVOS

2.1

E no usufruto das clareiras que rasgamos por toda a parte dos estandartes que desfraldámos até às vertentes dos muros e das amuradas esse homem de novo começa a cantar fragor de sarças alteando a sombra dos ombros passos e pássaros na descarga do limiar das noites e dos dias para outros promontórios escarpas e falésias e as gadanhas movendo a substância putrificada dos presídios e das mansões e a e cor liminar das laranjas do mar e o azul ameríndio do céu tudo por assim dizer que enchesse como um frémito o varejado leito dos rios as augustas estrelas das montanhas as doces romãs dos declives do mar e o calor tangível das casas macerando folhas de acanto cálamos lírios lagos que se afundam pelos caminhos


________________________________________________

*Rui Mendes, poeta, activista sócio cultural e consultor editorial, nasceu na Baixa Coimbrã.

Eis alguns fulcros escolhidos da sua biografia.

1
Em 1958, fundou e coordenou, com Eduíno de Jesus e João Vário, o JORNAL DE POESA, mensário que, de imediato, foi mandado destruir pela censura salazarista.

2
Em 1961 fundou com João Vário a revista Êxodo, (coordenada por João Vário, L. Serrano e por si) – marco indelével da nova poesia portuguesa.

3
Em 1964, foi-lhe atribuída uma «Bolsa para Jovens Escritores» pela, então, Sociedade Portuguesa de Escritores, hoje – APE (Associação Portuguesa de Escritores).

4
Em 1974, fez parte, como dirigente do Clube de Cinema de Coimbra, da extinta Comissão de Coordenação da Região Centro das Campanhas de Dinamização Cultural do MFA – Movimento das Forças Armadas.

5
Em 2003, foi o autor de O Fulgor da Língua, plataforma de criação colectiva no ciberespaço de o mais longo poema, o estado do mundo, no âmbito de COIMBRA CAPITAL NACIONAL DA CULTURA.

6
Publicou dois cadernos de poesia, em edição não venal, CANTOS e CANÇÃO.

*
Poemas e textos seus estão editados em Antologias e/ou Revistas e/ou Jornais, aqui, no Brasil e em Espanha.


Rita Grácio*




portugal


a partir Portugal de Jorge Sousa Braga



portugal
eu tenho vinte e quatro anos e tu fazes-me sentir
como se fosse nova demais para ti, embora me lembres que estou a caminhos dos trinta.
que culpa tenho eu
que as únicas mulheres da história portuguesa em fascículos
eram uma padeira que nunca existiu e umas quantas rainhas loucas, mães e megeras
só porque escolheste um treçolho na ponta do dedo indicador?

não imaginas como nem sequer fico húmida quando ouço o hino nacional
não estou virada p’ra te levantar o esplendor
(decerto as minhas egrégias avós me compreendem)

ontem fui às compras com a Maga Patalógika
- a vida está cara
a cara com o mal
é o que dá dar
a outra face –
e ela em vez de me dar uma poção, a querer convencer-me que com um ben-u-ron tudo passa
até esta hemorragia de lágrimas e pétalas em salga
esta mucosidade lusa a escorrer pelo atlântico e a acender lusos


portugal
um dia fechei-me no parlamento a ver se te compreendia
mas a única coisa que apanhei
foi uma otite

olha, portugal
eu quero lá saber da nação! – mas levo-te sempre no bolso para ver as horas a transformar-me no Coelho Branco
olha, portugal
eu quero lá saber da nação! – mas pelo sim pelo não
vou votando quando não faço aviões de papel

portugal, estás a ouvir-me?
eu sei que não. as mulheres falam de mais, não é? olha só este poema que já vai em duas páginas

portugal
eu nasci em mil novecentos e oitenta e quatro
cheguei tarde de mais para a festa dos cravos
mas ainda assim
puseram-me um prato na mesa
- estou agora a almoçar
faltam talheres, copo, guardanapo e companhia – nada de ressentimentos
ainda tenho a mão que me sobrou de escrever uma guerra nunca contada
faltam as barrigas de freira para a sobremesa que não devem tardar
- eles dizem que este banquete será sempre bom demais para mim
esquecem-se que somos nós que levantamos a mesa e lavamos a louça e tentamos aquecer
os restos
no micro-ondas


eu nasci em mil novecentos e oitenta e quatro
a venezuelana Astrid Carolina Herrera Irrazábal é eleita Miss Mundo – nada de ressentimentos

eu nasci em mil novecentos e oitenta e quatro
mário soares estava no poder e segue-se-lhe cavaco silva – nada de ressentimentos
à parte o facto de em dois mil e seis voltarem os bonecos bolorentos de uma colecção antiga às vitrinas presidenciais

olha, portugal
começo a ficar deveras ressentida!

portugal,
vou propor-te dois projectos eminentemente nacionais – porque está visto que um só não chega
que bebas um litro e meio d’água por dia, andes meia hora a pé e durmas as oito horas
e que vamos todos e todas
aprender renda de bilros

portugal
gostava de vestir-me de ti
se numa noite de inverno

___________________________________________________________

*Rita Grácio nasceu em 1984. No mesmo ano aconteceram uma série de coisas. Talvez por isso escreva poemas. O que é certo é que é fã de Mário Cesariny no facebook. E entretanto foi publicando poemas na Sulscrito e na Big-Ode e, sobretudo, na Oficina de Poesia, nome de revista e grupo de intervenção (coordenado por Graça Capinha), que é sua terra-natal desde 2003. De 2005 a 2010 foi membro do Conselho de Redacção desta revista, onde co-exerceu (com mais 6 vozes) a sua “justiça poética” (que está sempre em exercício, by daí). Em 2007 deu-lhe para co-fundar o blog-grupo experimental “aranhiças & elefantes”. Entretanto, deixou no prelo o ´-ES-TU-QUE. Em academês, Rita Grácio é Mestre em Sociologia, tendo já sacado uma licenciatura na mesma área, pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Até agora tem acordado de manhã para ir trabalhar como investigadora júnior no Centro de Estudos Sociais, no projecto “Novas Poéticas de Resistência: o século XXI em Portugal”.


Porfírio Al Brandão*





NO OUTRO LADO DO RETROVISOR OU
A TRINDADE ANÃ DAS MEMÓRIAS DE ALICE




para a Cristina Néry



três minutos não têm vermelhos
são um coração
muito bem desenhado

a sombra apareceu na parede

a mulher reúne fotografias
o coração suplica

[respiração desacertada]

alice na parede
: todos os relógios deviam navegar
a menos que milagre
um decote-duende tomado pela sombra
essa mulher
corpo que se aproxima e vai ficando maior maior
até de deixar de caber na parede

«o chão está todo poltrona forte» exclama

vê as palmas das mãos
[três argolas metálicas]
estica as folhas e coloca-as à altura certa dos olhos

a fome pequena e mais escura da cave a encher as paredes
sirene do navio sábio que se enrola
uma visita à guerra nuclear dos pequenitos
argolas........ cavalos........ cartas
outras plataformas
estrelas maiores

um compasso de submarinos

comment j’ai le scaphandre
éden a l’ouest et le papillon
há muito tempo nos piqueniques

daí que as pernas quase se bordavam em sistemas
gelo que era substituído a cada três horas
dava outro esticão às folhas – o chão dos pardais
e das galerias – MAINROAD
: duendita pode tocar no nevoeiro
parece um candeeiro-caravela

books do furnish a room

um silêncio periclitante
e a
cada dez segundos
morrer uma resistência
oca

os olhos ontem voltaram
várias cores em roubos a quartos dos poderes mágicos

vê filmes sentada no veludo dourado
tantas viagens
hotéis
: adensa-se o nevoeiro
uma protecção térmica

do algodão-doce ficou esta cor que não tem nome

do a damn thing

_____________________________________________

*Porfírio Al Brandão é o pseudónimo literário de Evaristo Almeida Martins, nascido em França a 18 de Abril de 1979 e residindo actualmente em Viseu. Colaborador de revistas literárias como Ave Azul e Oficina de Poesia, tem publicados os seguintes livros: Ancoradouro [2002], O Príncipe Nu [2002], Boca do Mundo [2004], O Bailado das Facas [2004], Moral Canibal [2005], Infracarnália [2007] e Januellarium [2009].


Pedro Afonso*






Questões Domésticas




lívidas as mãos de lidar
com os produtos abrasivos
para o brilho das superfícies
ou da alimentação
insuficiente que faz
por te acompanhar os dias
os olhos raiados
secos do ar sintético
que te condiciona os espaços
ou do choro
com que visitas algumas
das arrecadações proibidas
surda a voz de tanto
silêncio te pedirem
na outra língua
a qual sentes apenas imperativa
ou do ruído das máquinas
que auxilias para suas funções
e os braços arregaçados do mundo
acompanhando a pose das mangas
pela permanente água
que as mãos encarquilha
ou de um abraço que te ofereces
na noite sozinha
podia apresentar mais um
par de tristezas poéticas
que te varrem a vida
mas o teu par permanece
no país distante que amas
esperando a morte numa qualquer mina

________________________________________________

*Pedro Afonso nasceu em Faro em 1979, reside e trabalha nessa mesma cidade. Publicou nalgumas revistas e está representado, entre outras, nas antologias “Do Solo ao Sul”, ARCA, Faro 2005 e “Poema Poema”, Huelva, 2006. Publicou o livro de poesia “ainda aqui este lugar”, 4águas Editora, 2008.
E vendo bem as coisas não tem mais nada a tornar público numa nota biográfica.


Maria Toscano*







Dona Senhora, Dama, Rainha Magna




Dona Senhora, estranha e estrangeira
aqui poiso o meu gesto de consolo
devidamente como, Dona Senhora,
mereceis.

venho aqui poisar o meu gesto de consolo
venho aqui depor o meu poema de gratidão.

extemporâneo na geração, fora de época
nesta plena temporada dos carnavais
devidamente
como, Dona, como, Senhora,
devidamente, como mereceis.

as sílabas limo com cuidado

aprumo palavra após palavra

lustro o fio insinuado por cada verso

acolho seriamente o que se esboça
em palavra e espaço
em verso feito à mão
para, aconchegadamente,
o trazer ante vós
Dona Senhora, devidamente, ante vós.

no centro do mosteiro
baixo a voz
com que articulo
a mais antiga oração.
no centro do sagrado
espaço em tempo
do balbuciar reduzo o hábito veloz.
no centro deste centro

Alcobaça, magna e baça

centro-me na minha forma limitada
para, assim, me unir agigantar
com as almas fundadoras
e, assim,
aceder, em breve sílaba, ao templo são.

Dona Senhora
em temporada dos carnavais
o brilho que possa dedicar-vos
vos toca
pois noutros tempos
conhecestes as mesmas farsas,
mesma a violentação.

Dona Senhora
nem estranha nem estrangeira
Magna Dama
dos desencontros e da paixão
sã protectora entre aguilhões
e invernia
pelos corredores

onde sempre a maldade avance.

sã protectora e
oráculo das amadas
aceita, por esta vez, esta palavra
aceita-a. possa eu ser tua falante
e possas, tu, ser, Senhora Dama
atenta ouvinte atenta
a mediadora
a mediadora da roda-luz da visão.

Dona Senhora
terrena como sagrada
profana como vestal anunciada
Dama e Rainha
pelos Poetas desejada
possas ser, tu,
Dona, Senhora e Dama
agraciada pela voz solidária de nós todas
pela fala franca redonda aberta e branca
daquelas — porque amantes, porque mulheres
antes do tempo das farsas vis
já te eram irmãs.

a ti, Bela
endereço o meu verso

a ti, o verso, um sorriso
doce
e outro sorriso
meio nostálgico
triste.

a ti, Bela
Rainha da resistência
do persistir intacta
entre inimigos por inveja
a ti, Bela Mulher,
este poema irmão.

Dona Senhora
dos tempos das farsas vis
temos a lamentar
o insano imparável crescente
temos a testemunhar
a brutal vacuidade reinante
temos a denunciar
a escandalosa lei
ainda vigente, melhor,
agora escorada
na regra-mor da maldição: ter coração.

Dona Senhora
Dama
Rainha Bela
nossa natural irmã na redenção
nem estranha nem estrangeira
como nós
as da pele suor e sal guardadoras
como nós,
as do gesto da pausa e ritmo cicerones
como nós,
as afinadoras de tons e sibilos suaves

como nós,
as mestras da precisão de linha e linhos
como nós,
as provadoras de caldos molhos e fomes
como nós,
as amassadoras do dia com noite e medos
como nós,
as veteranas do berço do abraço e do prazer
como nós, vos chamo,
sobrevivente pelos corredores
por onde sempre a maldade avance
Magna Dama,
como nós,
viventes de amores e de paixões.

a ti, Bela,
endereço esta palavra
fiada, limada, lustrada
ao colo aconchegada até teu consentimento.

a ti, Bela,
Dona e Rainha
Senhora e Dama
reitero requeiro e invoco
— por nossa fala branca
......redonda
......aberta e branca —
tua presença iluminada
lúcida de amor
(ante o insano imparável crescente).

a ti, Bela,
Dona e Rainha
Senhora e Dama
reitero requeiro e invoco
— por nossa fala branca
......redonda
......aberta e branca —
teu abraço doce
sereno
acarinhante
(ante a brutal vacuidade reinante).

a ti, Bela,
Dona e Rainha
Senhora e Dama
reitero requeiro e invoco
— por nossa fala branca
......redonda
......aberta e branca —
tua ordem plena
rasgando a terra ao meio
e, aí, escorada,
possas banir da superfície
os vigentes actos farsantes sem coração
— devidamente, como mereceis —
e guardá-los no sub-mundo junto a vós
em lento e suave trabalho de reciclagem
segundo a regra-mor da redenção:
sã protectora
oráculo dos que amam
Dona Senhora Dama
nossa Rainha Inês.

____________________________________________

*Maria (de Fátima) Toscano nasceu Alentejana de Campo Maior, no mês de Maio e tem sido tecida pelos laços que faz, desfaz e refaz; pelos espaços que a marcam ou habita/m (Abrantes, Ilha do Sal-Cabo Verde, Águeda, Alentejo, Lisboa, País Basco e Coimbra), e pelos sonhos que arrisca, desde jovem, investigando os territórios da expressão e da criação pela arte: TEUC, 1980; IBIS - Teatro Universitário – ISCTE; Núcleo de Expressão Dramática da AEISMT – 2001-2002; direcção artística da Oficina de Teatro Universitário do ISMT, com ritmo incerto de trabalho, desde Abril/2003; animação de bares e restaurantes de Lisboa e Coimbra – anos 80/90 (música popular portuguesa e brasileira, fado; criação de espectáculos de cafés-concerto - canções de Piaf e textos próprios; convidada por Natália Correia para interpretar canções de Piaf na tertúlia de 8 de Março/1991, no Boutequim); canto, pontual, do Fado de Lisboa, desde 1993; canta no livro-cd «Poemigas. Versos y Canciones (Espanha, «del Lunar», col. Del Nagual: 1998).
Tem, publicados, sete livros de poesia (Minerva de Coimbra, Palimage Ed., e Pé de Página Ed.) e algumas Antologias ou Colectâneas de poesia integram textos seus (Coimbra Encantada, 2003, Pub. D. Quixote); e, no prelo (Pé de Página ed.), a sua tradução do conto argentino de Silvia Longohni: “A Árvore das Flores Amarelas”. Tem, por editar, onze livros de poesia; um texto de crónicas poéticas; uma colectânea organizada de textos dispersos dos anos 80, 90; e uma colectânea de sonetos (2003).
Desde 1997, tem criado sessões de poesia – que classifica de rituais poéticos de modo a diferenciarem-se da prática declamatória: fundando-se no cruzamento de téc-nicas teatrais participativas, tem vindo a experimentar abordagens da poesia que impli-cam a / e dependem da participação do público, sempre entendido como parceiro activo e interlocutor (p.exº: Animação nocturna na Alta de Coimbra, 15/ Nov./ 1997; «Poesia Torguiana – uma nova dependência tóxica» - poesia de Miguel Torga com Joaquim Basílio (sessão: foyer do TAGV, Coimbra, 1/Fev./2000; e todas as apresentações dos seus livros).
Paralelamente, na vertente profissional, é Socióloga. Ensina no Inst. Sup. Miguel Torga (Coimbra) desde 1990, investigando, actualmente, sobre os processos de requalificação social de mulheres designadas como pobres.


Maria Estela Guedes*






O alfarrabista

Entrar pela estreita porta e quase
Invisível
No aparato capitalista da Broadway Avenue.
Avançar por entre pilhas de saber
No desfiladeiro do escuro corredor,
Lá como cá de soalho de tacos
Mais rudes que tejolos
Mas sentirmo-nos ainda assim
Na caverna de Platão,
Ávidos da realidade que no papel transpira.
As paredes revestidas por duas e três camadas de volumes,
A capa brilhante, plastificada, outros
Cerrados na clausura de profundas encadernações
De couro gravadas a lume.
E os dedos que ousam, como tentáculos,
Tocar ao vivo a Poesia.
Põe os óculos e busca algo como
«Poeta en Nueva York», do desgraçado Lorca,
A quem a selvajaria do Poder
Assassinou do modo mais atroz.
Porém, os dedos, em vez dele, acham por si sós
E logo à primeira tentativa de saque
Outra cena tão diferente...

Um velho, as brancas barbas, entalado entre
Jovem alfarrabista que ao computador escreve
E a barragem inexpugnável de livros,
Num banquinho rente ao chão sentado
O olhar azul-beatnik ergue para a intrusa,
Interpelando-a, sem recato:
- Porque é que Elisabeth Barret Browning
Deu a esse livro o título

de «Sonnets from the Portuguese»?
- Não sei -, responde a estrangeira,
Grata pelo contacto verbal que lhe soube a camoniano
- Mas levo comigo os sonetos porque sou portuguesa.

__________________________________________

*Maria Estela Guedes (Britiande, 21 de Maio de 1947) é uma escritora portuguesa, investigadora no Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL), tendo co-organizado edições do colóquio internacional Discursos e Práticas Alquímicas e os primeiros volumes das respectivas actas.
É igualmente administradora do site triplov.

Obra:
Teoria poética do conhecimento e prática de resistência ao silêncio. In Revista da Faculdade de Letras de Lisboa, IV série, n.º 2, 1978.
Crime no museu de philosofia natural. Lisboa, Guimarães, 1984.
Edição literária de: Carneiro, Mário de Sá. Obra poética de Mário de Sá Carneiro. Lisboa, Presença, 1985.
À sombra de Orfeu, sonetos, antologia (selecção e prefácio). Lisboa, Guimarães Editores, 1990.
Prof. G. F. Sacarrão. Lisboa, Museu Nacional de História Natural, Biblioteca do Museu Bocage, 1993.
Árvores, do nosso imaginário epistemológico, epífitas & não. Com Ana Luísa Janeira. Lisboa Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologgia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL), 1996.
Carbonários, operação salamandra, chioglossa lusitanica, Bocage, 1864. Com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto, 1998.
Divórcio entre cabeça e mãos?: Laboratórios de química em Portugal (1772-1955). Com Ana Luísa Janeira e Maria Estela Guedes. Lisboa, Escolar Editora, 1998.
Lápis de carvão. Lisboa, Apenas, 2005.
Links, entre virtude e virtual. Com Pedro de Andrade e Paulo Mendes Pinto. Revisão de Luís Filipe Coelho. Lisboa, Apenas Livros, 2006.
Messianismos. Com José Manuel Anes e outros. Lisboa, Apenas Livros, 2006. Ofício das trevas. Lisboa, Apenas Livros, 2006.

Poética:Herberto Helder, Poeta Obscuro; Eco/Pedras Rolantes; Crime no Museu de Philosophia Natural; Mário de Sá-Carneiro; A_maar_gato; Ofício das Trevas; À la Carbonara; Tríptico a solo; A Poesia na óptica da Óptica; Chão de Papel; Geisers.

Teatro:O Lagarto do Âmbar (Fundação Calouste Gulbenkian, 1987);
A Boba (Teatro Experimental de Cascais, 2008).

Algumas instituições a que pertence:
Associação Internacional de Críticos Literários
Associação Portuguesa de Escritores
Instituto S. Tomás de Aquino

Notas:
José Augusto Mourão, Maria Estela Guedes, Nuno Marques Peiriço & Raquel Gonçalves, organizadores Discursos e Prática Alquímicas. Vol. I. Hugin Editores, Lisboa, 2001. José Manuel Anes, Maria Estela Guedes & Nuno Marques Peiriço (organizadores) Discursos e Prática Alquímicas. Vol. II. Hugin Editores, Lisboa, 2002.


Maria do Sameiro Barroso*







É tempo de viver, após a sanguessuga
negra das aves outonais.
O mundo ainda é capaz de surpreender
as brancas avenidas, os pulmões plenos,
os tubos de fuligem.
Entre Tchaikovsky, escuto a lírica
das sombras,
as copas vastas, as tílias aromáticas.
Sei que, por vezes, os girassóis acordam
demasiado cedo
e que é preciso trepar, pela sua geografia
de música,
até chegar ás margens do silêncio
e surpreender os olhos, as mãos,
o coração ileso, aceso
nos telhados

onde poisam os pássaros.

_____________________________________________

*Maria do Sameiro Barroso, poeta nascida em Braga, é licenciada em Filologia Germânica, em Medicina e Cirurgia, pela Universidade de Lisboa. Inicialmente vocacionada para a poesia, tem vindo a alargar a sua actividade à tradução de autores de língua alemã, ao ensaio e à investigação no âmbito da História da Medicina.
Obra Poética
• O Rubro das Papoilas, 1.ª ed., Átrio, Lisboa, 1987; 2.ª ed., Ed. Laboratórios Azevedos, 1998.
• Rósea Litania, Colibri, Lisboa, 1997 (capa de Maria Manuela Madureira; prefácio de João Rui de Sousa).
• Mnemósine, Universitária Editora, Lisboa, 1997 (prefácio de António Ramos Rosa; capa e ilustrações do Escultor Martins Correia)
• Jardins Imperfeitos, Universitária Editora, Lisboa, 1999. A este livro foi atribuído o Prémio António Patrício 1999 pela Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos.
• Meandros Translúcidos, Labirinto, Fafe, 2006 (prefácio de António Ramos Rosa).
• Amantes da Neblina, Labirinto, Fafe, 2007 (prefácio de Maria Teresa Dias Furtado, capa de Laura Cesana).
• As Vindimas da Noite, Labirinto, Fafe (capa de Júlio Cunha), 2008.. Este livro foi destacado pelo Diário de Notícias como um dos quatro melhores livros de poesia de 2008.
DistinçõesVencedora do Prémio Poesia Palavra Ibérica 2009 com o original Uma ânfora no Horizonte, instituído pela Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, numa parceria com o Ayuntamiento de Punta Umbria e com a colaboração de Sulscrito – Círculo Literário do Algarve.

ParticipaçõesParticipação em encontros de poesia, das quais destaca a II Bienal de Poesia de Silves, de 22-24 de Abril de 2005, com a comunicação «A palavra aprisionada» e a colaboração na Antologia " A Poesia serve-se fria", Câmara Municipal de Silves, Abril, 2005.Participou na III Bienal de Poesia de Silves, 25 a 27 de Abril de 2008, com a comunicação A palavra e o tempo.
Integra, desde 2007, a Comissão Editorial da Editora Labirinto.

Organização de Edições
• A Rosa Intacta, poemas e desenhos de António Ramos Rosa.
• Ciclo de Criação Imperfeita de Seomara da Veiga Ferreira, Junho de 2008.

Coordenação de Antologias
• Um poema para Fiama, antologia de poesia, em homenagem a Fiama Hasse Pais Brandão, em colaboração com Maria Teresa Dias Furtado, Maio de 2007.
• Um poema para António Ramos Rosa, prefácio de Paula Cristina Costa, capa de Laura Cesana, Outubro de 2008.
• Um poema para Agripina, prefácio de Ana Paula Coutinho Mendes, capa de Laura Cesana, Outubro de 2008.
• Antologias temáticas: Afectos, 2006; Afectos-Mulher, antologia de poemas, fotografias e desenhos, publicado no Dia da Mulher (8 de Março de 2007); Afectos-Liberdade (25 de Abril de 2007); Afectos –Natal (Dezembro de 2007),Afectos- Amor (evocativo do Dia dos Namorados, 14 de Fevereiro de 2008).

Colaboração em revistas literárias e antologias• Anuário de Poesia da Assírio & Alvim, Lisboa, 1986.
• O Escritor (Revista da Associação Portuguesa de Escritores), Lisboa, 1999.
• Jornal Artes & Artes, 1997, 1998, 1999 e 2000.
• Mealibra. Revista de Cultura, do Centro Cultural do Alto Minho, Viana do Castelo, Jan. de 2001, Jun. de 2001, Inverno de 2005/ 2006 e Setembro de 2007.
• Palavra em Mutação, Porto, 2002, 2003, 2004.
• Revista Saudade, nº 6, nº 8, nº 9 e nº 10.
• António Ramos Rosa, Fotobiografia, Organização de Ana Paula Coutinho Mendes, D. Quixote, Lisboa, 2005.
• Homenagem a António Salvado, Organização de José Miguel Santolaya Silva, Salamanca, 2005.
• António Ramos Rosa, Fotobiografia, Organização de Ana Paula Coutinho Mendes, D. Quixote, Lisboa, 2005.
• Mealibra, Caligrafias, Separata, Organização Maria João Fernandes, Colaboração Gonçalo Salvado, III Série Nº17 Inverno 2005/2006 –Centro Cultural do Alto Minho, p. 24.
• Palavras de vento e de pedras, Organização Pedro Salvado, Município do Fundão, 2006, p. 67.
• Afectos, Labirinto, Fafe, 2006.
• Homenagem a António Ramos Rosa, Revista Textos e Pretextos, nº 9 Outono/Inverno, 2006, Centro de Estudos Comparatistas, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa.
• Homenagem a Sophia de Mello Breyner Andreson, Pen Club, Editorial Caminho, Lisboa, 2007.
• Dez anos de Solidão de Daniel Gonçalves, Labirinto, Fafe, 2007.

Tradução• Flauta Mágica, de Mozart, a partir do facsimile da 1ª edição de 1791, Esquilo Editora, 2007, pp. 151-295.
• Colaborou com a Revista de tradução e poesia, DiVersos, n.º 8, com 4 poemas inéditos e tradução de quatro poemas de Nelly Sachs.

Ensaio• O feminino na literatura masculina (a luz das manhãs misteriosas), Revista Palavra em Mutação, nº4, 2003(http://www.triplov.com/letras/maria_do_sameiro/feminino_masculino.htm).
• A Palavra Aprisionada(http://www.triplov.com/2bienal_poesia/maria_do_sameiro/index.htm).
• A palavra e o tempo (ensaio sobre a origem da poesia)(http://www.triplov.com/letras/maria_do_sameiro/2008/Silves/democratizacao.htm).
• Alexandre Magno, o intérprete divino, VIII Colóquio Internacional "Discursos e Práticas Alquímicas" 20-21 de Junho de 2008, Palácio Nacional de Mafra, Escola Prática de Infantaria, 20-21 de Junho de 2008, Mafra (http://triplov.com/Coloquio_08/Maria-do-Sameiro/index.htm).
• Mistérios em cena - ritos, transformação e música em A Flauta Mágica de Mozart, Mozart e os Mistérios Iniciáticos, Esquilo Editora, 2007, pp. 51-86.

Estudos
Tem colaborado com o Boletim de Estudos Clássicos, da Associação de Estudos Clássicos, da Universidade de Coimbra, da qual é membro, traduzindo poemas de Friedrich Schiller, de temática clássica, seguidos de ensaio: Os Deuses da Grécia, seguido do ensaio Schiller — Utopia, Clarividência e Desencanto (in Boletim de Estudos Clássicos, N.º 37, Junho de 2002, pgs. 139-150), Nénia, seguido do ensaio A Duodécima Aurora (in Boletim De Estudos Clássicos, Nº 38, Coimbra, Dezembro de 2002, pgs. 155-162), A despedida de Heitor, seguido do ensaio Sobre os Rios do Estige (in Boletim de Estudos Clássicos, Nº 39, Coimbra, Junho de 2002, pgs. 95-112),Cassandra de Friedrich Schiller; seguido dos ensaios Cassandra, Vox Femina tragica (in Boletim de Estudos Clássicos,, Nº 41, Coimbra, Junho, 2004, pgs. 83-102); e Cassandra, Vox Femina tragica (in Boletim de Estudos Clássicos, Nº 42, Coimbra, Dezembro, 2004, pgs. 199-214), Ditirambo, seguido do ensaio, O corpo imutável do sublime, in Boletim de Estudos Clássicos, 43, Junho de 2004, Coimbra, pp. 159-167.A dignidade das mulheres, seguido do ensaio A harpa estrangulada do silêncio (in Boletim de Estudos Clássicos, nº 44, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Associação Portuguesa de Estudos Clássicos, Coimbra, Junho, 2005, pp. 181-194). Todesfuge, de Paul Celan; seguido do ensaio Paul Celan — O coração em cinza (publicado in Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Inocêncio Galvão Telles, Volume V, Direito Público e Vária, Estudos organizados pelos Professores Doutores António Menezes Cordeiro / Luís Menezes Leitão/Januário da Costa Gomes, Almedina, Coimbra, 2003, pgs. 411-423), em colaboração com o seu filho, Ivo Miguel Barroso.

História da Medicina
Participa, desde 2003, nas Jornadas de Estudo Medicina na Beira Interior da Pré-história ao Século XXI; tendo apresentado comunicações e publicado os respectivos artigos:
• João Curvo Semedo — Em busca da química da vida, Cadernos de Cultura Medicina na Beira Interior, da Pré-História ao Século XXI, Nº XVIII, Novembro de 2004, Castelo Branco, pp. 53-57.
• Médicas na Antiguidade Clássica – Um rosto reencontrado, Cadernos de Cultura Medicina na Beira Interior, da Pré-História ao Século XXI, N. º XIX, Castelo Branco, 2005, pp. 49-64 (a este artigo foi atribuído o Prémio Barros Veloso de História da Medicina 2004-2005, pela Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, em 29 de Maio de 2006).
• Sob a protecção de Lucina, Alguns aspectos da Medicina Obstétrica e Ginecológica Antiga, Cadernos de Cultura Medicina na Beira Interior, da Pré-História ao Século XXI, N. º XX, Castelo Branco, 2006, pp. 93-103,
A glória das mulheres de cabelos ondulados, algumas reflexões sobre a histária das mulheres na Antiguidade, Faces de Eva, Revista de Estudos sobre a mulher, Universidade Nova de Lisboa,, Nº 16, Edições Colibri, 2006, pp. 93- 120,
• A Mulher e a Medicina Mágico-reliogiosa no Antigo Egipto (conferência inaugural das XIX Jornadas de Estudo " Medicina na Beira Interior – Da Pré-História ao século XXI, Castelo Branco, 11 e 12 de Novembro de 2006), in Cadernos de Cultura Medicina na Beira Interior, da Pré-História ao Século XXI, N. º XXI, Castelo Branco, pp. 5-27.
• Schiller, doctor medicinae, in Schiller, Cidadão do Mundo, Actas do Colóquio Internacional, Org. Teresa Rodrigues Cadete, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, Goethe Institut Lissabon, 2007, pp. 147-174.
• Ciência e Humanismo dos Primórdios à Grécia Clássica, Cadernos do ISTA Instituto São Tomás de Aquino, Nº 20, 2007, Ano XII, Lisboa, pp. 19-55.
• A cesariana, dos primórdios ao século XIX, Medicina na Beira Interior – Cadernos de Cultura Medicina na Beira Interior, da Pré-História ao Século XXI, N. º XXII, Castelo Branco, pgs. 56-71. • A Lira, a Pedra, a Formosa fonte, Tópicos para uma leitura da poesia de José Leite de Vasconcelos, O Arqueólogo Português, Volume de Homenagem a José Leite de Vasconcelos, Museu Nacional de Arqueologia (no prelo).
• A Medicina no Periodo Helenístico, Boletim da Sociedade de Geografia, Série 125ª- Nºs 1-12. Janeiro-Dezembro, Liboa, 2007, pp. 123-138.

Ainda na MedicinaMinistrou o curso Saúde e Medicina, no Museu Nacional de Arqueologia, com o Dr. Álvaro Figueiredo, arqueólogo e antropólogo; e também o curso Medicina e História da Mulher na Antiguidade.
Escreveu a Introdução a Medicina dos Lusitanos – uma obra de referência. A investigação posterior, in José Leite de Vasconcelos, Medicina dos Lusitanos, Edição aumentada nos 150 anos do nascimento do Professor Doutor José Leite de Vasconcelos, Celom, 2008, pp. 15-36. Esta edição foi organizada pelo Presidente da Secção de História da Medicina da Sociedade de Geografia de Lisboa com colaboração do Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa, 2008.
Apresentou, nas XX Jornadas de História da Medicina da Beira Interior (7-8 de Novembro de 2008 a comunicação A III Ode Pítica de Píndaro — A primeira manobra de resuscitação cardio-respiratória descrita na Antiguidade).



Maria Azenha*







Vale a pena saber o que aconteceu


Vale a pena saber o que aconteceu:
dois anos, olhos marejados de breu,
colhia do chão uma poeira de farinha
que colocava num pedacito de pano.
Para o tecido encontrado algures no solo
sabia, com exactidão, aquilo que deveria ser alimento para crescer.
E tu lembrarás ao pequeno-almoço, ao almoço, ou
depois de qualquer repasto,
o destino de um poema a arder virado para fora das mãos.

Fica gravado na tua primeira escola, o coração,
o que se passa no mundo, na loja, na rua,
com fendas agudas abertas nas páginas.
O menino não estava a brincar na neve nem outra coisa ocorreu.

Como disse Brecht
“ Observa todos quantos o teu olhar alcance.
Observa os desconhecidos como se te fossem familiares
E aqueles que conheces como se te fossem estranhos.
Só quem sabe qual é o destino do homem
pode com exactidão ver o homem”

e saberás tu, quanto és tu, com um punhal de neve na mão

________________________________________________

*Maria Azenha, nascida em Coimbra, Poeta Portuguesa.
Licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra.Exerceu funções docentes nas Universidades de Coimbra, Évora e Lisboa. Exerceu actividade docente no Quadro de Nomeação Definitiva na Escola de Ensino Artístico António Arroio. Membro da Associação Portuguesa de Escritores APE.

Obras publicadas1987 - Folha Móvel, Edições Átrio
1991 - Pátria D' Água, Edições Átrio
1992 - A Lição Do Vento, Edições Átrio
1992 - O Último Rei de Portugal, Editora Fundação Lusíada
1999 - O Coração dos Relógios, Editora Pergaminho
1999 - Concerto Para o Fim do Futuro, Editora Hugin
1999 - P.I.M. (Poemas de Intervenção e Manicómio), Universitária Editora
2001 - Poemas Ilustrativos de Pintura de Valdemar Ribeiro, Edição Symbolos
2002 - Nossa Senhora de Burka, Editora [1]Alma Azul
2005 - Poemas Ilustrativos - De Camões a Pessoa - Viagem Iniciática, Editora Setecaminhos
2008 - A Chuva nos Espelhos, Editora [2]Alma Azul
2009 - CD O Mar Atinge-nos", Editora Discográfica Metro-Som
2010 - "De Amor Ardem os Bosques", Ed./Autor, 2010

Antologias de Poesia
1982 e 1983 - Madrugada 2 e 3, Edição do Movimento de Escritores Novos
1984 a 1987 - Anuários de Poesia 1, 2, 3 e 4, Edição Assírio & Alvim
1988 - Água Clara, Edições Património XXI
1989 - Hora Imediata (Hora Extrema), Edições Átrio
1989 - 100 Anos (Federico Gracia Lorca), Universitária Editora
1989 - Viola Delta - 14º. Volume, Edições Mic
1991 - Antologia de Homenagem a Cesário Verde, Edição Câmara Municipal de Oeiras
1994 - Simbólica 125 Anos, Edição Ateneu Comercial do Porto
2001 - 25 Poemas no Feminino, Edição da Junta de Freguesia da Penha de França
2002 - Revista de Artes e Ideias, nºs 4 e 5, Editora [3]Alma Azul
2002 - Gabravo - Artdomus, Edição S. Pedro de Sintra
2003 - Povos e Poemas (Edição Bilingue), Universitária Editora
2004 - Na Liberdade (Homenagem de Poesia aos 30 anos do 25 de Abril), Garça Editora
2003 e 2004 - Poema Colectivo - O Fulgor da Língua Projecto Inserido nos Eventos de Coimbra - Capital Nacional da Cultura
2005 - Antologia / Pablo Neruda, Universitária Editora
2008 - DI VERSOS - Poesia e Tradução, nº. 14, Edições Sempre-Em-Pé

Ligações externas Projecto Vercial
Mulheres do Século XX
Agulha Revista de Cultura
Triplov

Prémios 1986 - Medalha de Prata – Concurso Nacional de Poesias Ano Jubilar USU – [4]Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro
1990 - Menção Honrosa – Prémio Eça de Queiroz
1991 - 1º. Prémio – Concurso de Literatura e Artes Plásticas “Os Descobrimentos Portugueses”

Música Frequentou o Conservatório Nacional de Música em Coimbra.
Participou em Recital de Piano organizado pela Juventude Musical Portuguesa, 1961 e 1963.


Luís Serrano*






Elegia à memória do Fernando Assis Pacheco


De ti direi
que amavas a mulher
e os filhos
e generoso eras
com os amigos

brincavas com a neta
açulavas o cão

mas choravas a horas mortas
não já nas emboscadas da guerra
mas sobre a tua vida armadilhada
porque o fim estava próximo
e tu sabias

e depois o desencanto
dum país que mete dó
o algodão branco a cirurgia
o soro da loucura

Merdalhem-se uns aos outros dizias
enquanto lembravas o pai a mãe
o avô Santiago

Já lá vão treze anos
que a tua voz se perdeu para sempre

mas ficaram por aí
uns quantos filhos da puta
e nós já sem estaleca para mandar
essa meia dúzia de canalhas à tabua.


__________________________________________________

*Luís Serrano

Nota biográfica

Nasceu em Évora em 1938. Licenciado em Ciências Geológicas (UC). Estudos especializados na Universidade de Bordéus e em Madrid (CSIC).
Assistente da F. Ciências da UC (1967-1970), geólogo da Direcção-Geral de Minas (Porto, 1970-1975) e Investigador da Universidade de Aveiro (1975-2001). Entre 1996 e 2001, responsável pela coordenação cultural desta Universidade.

Nota bibliográfica
Colaboração dispersa em diversas páginas literárias (Região Bairradina, O Primeiro de Janeiro) e revistas (Vértice e Letras e Letras). Representado em várias antologias.
Foi um dos fundadores da revista de poesia Êxodo (1961).
Obras publicadas: A Taça e o Brinde in Caderno de Poesia Êxodo (Coimbra, 1961), Poemas do Tempo Incerto (Vértice, Coimbra 1983), Entre Sono e Abandono (Estante Editora, Aveiro, 1990), As Casas Pressentidas (edição de autor, Aveiro, 1999, uma das obras premiadas com o Prémio Nacional Guerra Junqueiro) e Nas Colinas do Esquecimento (Campo das Letras, Porto, 2004).
É ainda autor da tradução de Dieu Face à la Science de Claude Allègre (Gradiva/UA, 1998).


José Ribeiro Marto*







É UM FOGO SILENCIOSO CAÍDO À NOITE


e adormecem as crianças nos sonhos cruéis
a morte numa faca uma pedra de fogo nos olhos
são momentos puros ou decisões exangues
notas musicais na grada noite
no entanto pouca a luz

não há gritos nem há danças
a luz corrente não deu cor aos dias
as crianças têm
rosas de água nos anagramas dos cabelos
correm no sono
cruzam nos jardins a ponte rude

as crianças adormecidas nas promessas de crescer
têm sede de sol ouvem os uivos de lobos

uma imagem de fogo e letras várias
é um fogo silencioso caído à tarde
este sonho que decresce nos olhos
espera a noite

calam na boca os sonhos na aspereza da língua
têm as festas do olhar nas mãos de água
sonham na estranheza ancoradouros perdidos
ouvem vozes é o mundo escondido
que lhes dá sorriso vivo
estão calmas no sonho com uma faca ou uma taça
tudo por acordar nos olhos de solidão
de quem as adormeceu


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*JOSÉ RIBEIRO MARTO
Nasce no dia 3 de Abril de 1960 em casa da bisavó paterna entre o concelho da Moita e o de Palmela.
- Estuda Sociologia no ISCTE.
- Faz uma Pós -Graduação em Escrita Literária na Universidade Lusófona.
- Ganha em 2007 o 1º Prémio Litterarius de Poesia com o poema “PASTOREIO” e uma menção honrosa com um conjunto de poemas “ERRAR” promovido pelo Clube Racal de Silves.
- Foi professor do Ensino Secundário .
- É professor de Português como Língua Estrangeira .


Jorge Velhote*





JOÃO MACHADO, OU O BORDADOR DE ÁGUAS



Com um lápis, escava no papel,
empurra pedras para cima
e para baixo, faz sulcos na terra,
planta árvores e aves, a breve luz
do anoitecer, o brusco salto dos peixes
que rasgam a água e a melodia dos insectos
que zumbem na lama das margens.

Para cima e para baixo empurra
pedras, faz sulcos na terra, desenha
um rio de seixos azul
sombreado com nuvens e barcos.
Cega a luz que revela os segredos,
escuta o efémero silêncio das mãos
pacientes, o ardor do vento que desarruma
as árvores e desperta as sombras.

É um lençol de lume, arco-íris inadiável
abrindo fendas puras entre pedras
como dorsos, um tambor de perfume.

Cada vez mais para cima e para baixo,
empurra pedras entre penedos e a noite,
decifra, entre destroços
os ossos, os martelos inebriantes dos ritmos,
armadilha com espelhos os filamentos do nada,
o brilho negro da música faz mergulhar
na fúria da poeira,

o bordador de águas acelera-nos
a morte, caça-nos entre as imensas
labaredas das tentações, depura
o nosso suplicante olhar com cerimónias campestres,
simulações, folhas, arbustos,
a disciplina dos portões e das fábulas, a minuciosa
magia do negro que faúlha entre os nossos dedos
e os nossos lábios e ilumina o medo do nosso olhar.

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*Jorge Velhote nasceu no Porto em 1954. Tem colaboração dispersa, desde 1978, por vários jornais, revistas, álbuns e antologias. Entre os seus livros contam-se obras como Os Sinais Próximos da Certeza (1983) e a tradução de As Asas de Orvalho dos Ventos, de Adnan Özer. Foi ainda director, com Raul Martins, da revista Rotura, publicada no Porto em 1979. Mais recentemente publicou Máquina de Relâmpagos (2005), com fotografias de João Paulo Sotto Mayor e ilustração de Mariana Negrão. Colaborou no n.º2 de Hífen – Cadernos Semestrais de Poesia (Abril-Setemb. 88).


João Rasteiro*






Portugal
1.
Morreu meu país de sol.
A sua própria geometria. Oblíqua. Prostrada e nua.
Sobre a rotação dos sonhos que se resgatam.
Todas as noites sua ausência se repete
unívoca com sua minúcia celeste no corpo
amplo da neve que anseia a lágrima.
Eu questiono,
mais do que a ausência e mais do que desbaratar
o assombro do assombro
nas margens do vento, a luz tem agora a idade
do mundo bebendo o silêncio, a escuridão
dobrada para si em esplêndida violência.
O medo de ansiar reinventar as ínfimas raízes
do sol em seu regaço – assim, o que será
a morte da fantasia?

2.
Questiono-te, meu país: o que será a morte
da fantasia, a clara hegemonia dos corações tristes
sob os gritos das aves, encontraste o precipício
que procuraste em teu perplexo e altivo desvario?
Encontraste a desumana melancolia da concisão
das águas nas virilhas do remorso de Abril
ou repousas suspenso e gemes sobre o solstício
da boca atulhada em sangue primordial,
o verbo imperceptível ao poema,
o nevoeiro que arqueja ainda em Alcácer Quibir?
Onde se perdem as crias da gestação mais dura,
do total desamor dos seres que concebiam
as vozes puras das vísceras fecundas,
uma cobra de cabeça cristalina desposa os quadris
oprimidos e aspergidos de um país ausente,
que já não impulsiona o impetuoso encantamento
da utopia, os sonhos acesos dentro do tempo?

3.
Questiono-te, meu país: agora, se algumas
coisas são os mortos aprisionados nas estrofes
de Camões, cânticos como se só a poesia
fosse estrela de oiro intacta,
ou se só a utopia fosse um desmesurado verbo
numa espécie de batalha silenciosa
que compreende tudo o que os deuses
e as ninfas traiçoeiras no roteiro dos imensos mares
do sul, não podem realizar tudo o que elas
guardaram sob os seios onde os cravos dão flor,
como um oceano fechado secando
o esquecimento que nenhum oceano detém.
E o meu louco desejo é o trilho salgado
que ficou das gaivotas. O uivo de um navio
onde agora o olhar se perde e era o infinito.
Estas esquivas modelações do tempo: os sonhos
selvagens de um país onde começo.

4.
Morreu meu país de sol.
Eu partirei para qualquer pais de sol. Onde não é.
Onde não subsista a infinita solidão da sílaba muda,
o corpo exacto para lhe ser sangue e flor
e aves alucinadas por entre os mastros de bronze.
O sonho do verbo. Um outro sonho de terra,
ténue, o vulto encoberto de outro canto.
Um novo eclipse no âmago do mundo,
ao fundo do coração. Há-de emergir um país
na visão feroz do rosto dos deuses.
Iminente, em insondável ilusão. Onde não é.

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*JOÃO RASTEIRO (Coimbra - Portugal, 1965). Licenciado em Estudos Portugueses e Lusófonos, pela Universidade de Coimbra. Poeta e ensaísta, traduziu para o português vários poemas de Harold Alvarado Tenorio, Miro Villar e Juan Carlos Garcia Hoyuelos. É sócio da Associação Portuguesa de Escritores, membro do Conselho Editorial da Revista Oficina de Poesia e do Conselho Editorial da revista brasileira Confraria do Vento. Tem poemas publicados em várias revistas e antologias em Portugal, Brasil, Colômbia, Chile, Itália e Espanha e possui poemas traduzidos para o Espanhol, Italiano, Inglês, Francês e Finlandês. Publicou os livros de poesia, A Respiração das Vértebras (Sagesse, 2001), No Centro do Arco (Palimage, 2003), Os Cílios Maternos (Palimage, 2005), O Búzio de Istambul (Palimage, 2008) e Pedro e Inês ou As madrugadas esculpidas (Apenas Livros, 2009). Obteve vários prémios, nomeadamente a Segnalazione di Merito no Concurso Internacionale de Poesia: Publio Virgilio Marone (Itália-2003), o 1º prémio no Concurso de Poesia e Conto: Cinco Povos Cinco Nações, 2004 e o 1º prémio – na categoria de autores estrangeiros - do Premio Poesia, Prosa e Arti Figurative-Il Convívio (Verzella, Itália, 2004). Em 2005 integrou a antologia: “Cânticos da Fronteira/Cánticos de la Frontera (Trilce Ediciones – Salamanca). Em 2007 integrou a antologia Transnatural, um projecto multidisciplinar sobre o Jardim Botánico de Coimbra. Em 2007 foi um dos poetas participantes nos VI Encontros Internacionais de Poetas de Coimbra, F.L.U.C. - Universidade de Coimbra. Em 2008 integrou a antologia e exposição internacional de surrealismo O Reverso do Olhar. Em 2009 integrou a antologia: “Portuguesia: Minas entre os povos da mesma língua – antropologia de uma poética”, organizada pelo poeta brasileiro Wilmar Silva e que engloba poéticas de Portugal, Brasil, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Em 2009 organizou um número especial (nº 44) da revista Colombiana Arquitrave sobre a poesia portuguesa mais recente: A Poesia Portuguesa hoje. Prepara-se para publicar um novo livro que se intitulará: Diacrítico. Vive e trabalha em Coimbra, no âmbito cultural da C.M.C. Mantém em permanente irrupção o sísmico fulgor do blogue: http://www.nocentrodoarco.blogspot.com/


Henrique Dória*






Ah! palavras palavras palavras - leões
Alados - ar imortal
Para que vos quero - antes
A minha morte. Catástrofes
Ternura nos dentes de sabre
Meu velho e fiel demónio - Amor
Rasgo-te as entranhas faço-te crescer
Uma faca no crânio - regando-o
À flor misteriosa.

A flor misteriosa é subtil no uivo.

Oh! imaculada concepção
Com uma deslumbrante açucena no sexo-
Nesse lugar toda a açucena é santa
Nesse lugar apostasiei de mãos
Voltadas para o céu sem fundo.

Virgenzinhas que uivam
Voltou a lua em crescente louvando-se
No sangue - loba - lobo
Que esperais da noite?
A hiena tornou-me escravo e cobarde demais
Para vos rasgar os flancos.
Nunca praguejei mesmo vendo-me só
E de olhos enlameados entregando-se precocemente
À terra às raízes da tíliaâmbar.
Tenho bebido vidro embebido
Em absinto
Eu a taciturna esfinge
Hoje sou um lobo num quarto
De chumbo olhos
Do tamanho da lua branca
Suspensos num sol negro sete vezes maior.
Deram-me a comer os meus próprios testículos
A mim que na remota infância fui
Alimentado com leite de cabra.
Para ser verdadeiro deveria despojar-me
De tudo - das mãos-da boca-das rosas
Das palavras sufocantes
Das palavras sufocantes sim porque é sufocante toda a beleza

Construída com argila na boca.

Eles os meus olhos são agora só sangue
Solitários no fundo da ânfora
E as asas de leão levam-me
Às estrelas no fundo da ânfora
Cruel viagem porque dentro de mim
Há três pessoas
Pregadas à minha pobre pele
Dizia eu - por dentro
A boca da terceira está cozida com agrafos
Mas ela uiva uiva uiva
Ao lado da noiva uiva
Ao lado da viúva de cabeça vermelha
Ao lado do crucificado uiva uiva uiva
Demoníaca trindade
Dizendo um trinco na língua
Só sabes praguejar com pregos nos dentes
Com uma walter no lugar das mãos
Precisa de ti para viver a terceira pessoa
Mas tu não vens
Inacessível louvor do violoncelo atravessando o vidro
Solitária ilusão respiração penosa
Grito atónito por ti que nunca vens

Rima misteriosa.

Corto a pedra com três faces - aprendiz companheiro mestre
O escopro contra o coração
A matraca contra a garganta
Impelindo-me à obra
Pedra do Amor sobre Pedra do Amor
Torre sobre a língua imperfeita dos homens
Torre rumo ao farol
Espalhando a luz que ressoa sobre as águas
Fendendo o deserto com poder
Abrindo com relâmpagos a porta à majestade.

Ah! palavras que uivam dentro das palavras-
Só as palavras me hão-de amar na mansão dos mortos.

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*Henrique Dória colaborou no Diário de Lisboa Juvenil.
Colaborou na Revista Vértice.
É advogado.
Colabora na Revista Cultural da Ordem dos Advogados, “FORO DAS LETRAS”.
Tem três livros de poesia editados e dois de prosa.
É director do jornal O PROGRESSO DE GONDOMAR e da Editora XERAZADE, EDIÇÕES.


Graça Magalhães*





Quando a luz rasgar os frutos
e vier a manhã
e um estranho se sentar ao teu lado
toma o nome das romãs
diz-lhes que sou árvore
que vem de fora um pássaro para me ouvir
põe uma cadeira ao meu lado
senta-te, deixa-me colher a luz.

Trabalho a partir do nascente
da palavra soprada como vento no corpo.

Reúno silêncios, sangue, caule
o harpejo dos pulmões.
Os remoinhos por onde passaste
são trevos cardeais.
Abandono-me para dormir
onde se pode florir no lugar de padecer
peneiro cada sílaba de terra
o desabrigo de qualquer pontuação calada.

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*Graça Magalhães nasceu em Moçambique, onde passou a infância.
Estudou em Coimbra onde concluiu licenciatura e mestrado em Ciências da Educação na Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra.
Exerce em Viseu a profissão de educadora de infância e colabora como professora numa instituição de ensino superior na mesma cidade.
Tem poemas publicados em diversas Antologias e Revistas on line e impressas, de que destaca a Revista Oficina de Poesia.
Publicou na Palimage os livros:

Corpo de Rio – 2005
Na Memória dos Pássaros – 2006
Lavrar no Corpo das Algas – 2008
A Geografia do Tempo - 2009


Fernando Esteves Pinto*






Aquele quadro de alguém que escreve arquivado num canto da sala
essa imagem inflamável que ameaça o teu olhar
e o transforma na trémula recusa de observação
um dia ardeu na consciência da tua casa.
Agora observas as paredes dobrarem-se como as folhas dos livros
e uma língua inútil vem lamber o espaço ferido e cintilante
tudo para falar desse medo que se incendeia no tecido do tempo
essa instalação de onde escreves arruinado
como se te enrugasses num fogo turvo de esquecimento
e os teus passos pela vida fossem a cinza e o bolor incendiários.

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*Fernando Esteves Pinto
Nasceu em Cascais em 1961.
Colaborou no DN Jovem e no Jornal de Letras.
Em 1990 recebeu o Prémio Inasset Revelação de Poesia
Do Centro Nacional de Cultura.
É publicado em Espanha e México por revistas literárias e editores
independentes.
Em 1998 obteve uma bolsa de criação literária pelo Ministério da Cultura/
Instituto Português do Livro e das Bibliotecas.
Está representado em várias antologias.
Co-fundador e coordenador do “Sulscrito” – Círculo Literário do Algarve
Co-fundador e coordenador do projecto Literário Palavra Ibérica
Editor da 4águas – Editora de poesia
Livros publicados:- Na Escrita e no Rosto (poesia) Editora Europress
- Siete Planos Coreográficos (poesia, edição bilingue) Editora 1900, Huelva
- Ensaio Entre Portas (poesia) Editora Almargem
- Conversas Terminais (romance) Editora Campo das Letras
- Sexo Entre Mentiras (romance) Editora Leiturascom.Net
- Sexo Entre Mentiras (tradução espanhola) Editora Baile del Sol – Canárias
- Privado (novela, edição bilingue castelhano/português) Editora Canto Escuro