21 maio, 2010

o caçador.cativo *// à laia de resposta

-ao joão rasteiro.


haviam.se em vão procurado nas cidades

percorreu continentes e
quando desistiu
encontrou.se solto no ritmo lento
de uma valsa
dançada em contra.mão

desintegrado

sentiu as ondulações das searas
que searou em dança lenta e
regressou estranho às recordações de antanho
antanho era a linguagem de seus avós

cresceu junto à terra gretada
pela fome das manhãs abertas e
desde cedo sentiu a boca
apagada pelo desejo de terra pão
fustigada pelo vento

pulou a cerca
construída sobre os dias
como as copas das árvores que
costumava ouvir à noite entregue
aos seus passos de caçador furtivo
numa dessas deambulações encontrou.a
solta
aproximou.se e ela a medo levantou as asas
no voo ferido




soltou os cães e
ficou suspenso à dança do animal
em voo
primeiro raso
depois mais alto
arribando em direcção ao mundo
em tons de mel
engrossou o batimento das asas
ao som da presa
o homem / caçador / cativo
daquele voar
enquanto filados
os cães esperaram a voz de comando

ele muito aquém da aventura
seguiu.lhe o volteio
o silêncio da terra foi o elo que os uniu

ele o caçador cativo
ela solta à migração
o desejo
deixou.os sob um manto de horas
semeadas a esmo
que estranho aquele olhar que
se projectou na mira do caçador
tornando.a vulnerável


o cúmplice
jogo do agarra e foge
ele o efabulador
regressou caçador
ela de asas fechadas
pronta a deixar.se prender
olhou.o
ele viu.se
projectado no olhar em flash

uma ave / dona




-bogdan zwir.
_______________________________________

*gabriela rocha martins ,in , "Os dias Do Amor. Um poema para cada dia do ano", ed. Ministério dos Livros, 2009