14 maio, 2010

estórias de um cão que fala (I)


-romain de tirtoff



sou um cão. um cão.

ontem quando o P M falava de água leite e coca -cola enrolei-me todo nas patas. fartei-me de rir porque um cão não bebe coca-cola e leite já lá vai o tempo de mamar a água não é problema se for transtornada em vinho o que vai provar os milagres que ainda hoje existem o meu dono que estava na sala comigo começou a falar sozinho de há uns tempos para cá é o que ele faz fartei-me de ladrar mas ele não me ouviu já se habituou coitado a ganir e eu comecei a falar um livro anda mais devagar é como uma caixa abrimos e fechamos várias vezes as letras e as páginas no dia seguinte estão lá outras palavras e voltamos a ler

há livros de todas as espécies os que tratam de plantas os que ensinam matemática e até há livros para adormecer o livro do PM ajuda a pensar Pensamos por exemplo em água leite e coca- cola. pouco mais há a dizer a não ser piratas aventuras e irmãos metralha mas estes são de outra estória da mesma colecção

ninguém imagina como é bom ler um livro do PM tem só uma página não demora nada a ler

os outros personagens estão fora do livro só se podem ver na caixa negra do plasma mas isso é como tudo hoje em dia ninguém diz nada do livro do PM há lá grandes paisagens para ensinar não está dito mas vamos todos juntos para o grande buraco e nada absolutamente nada substitui esta enorme alegria de vermos meia dúzia de palavras num outro mundo a nascer hoje em dia é tudo muito rápido

vá com o seu cão a uma livraria compre-lhe um livro de que ele goste inscreva-o numa canoteca descubra o seu cão nos livros e fique mais próximo dele

cada bocado de livro novo vai fazer parte da sua casa como se fossem laranjas ou batatas ou como trepadeiras

um dia vou escrever como um cão. um cão a sério.

só me resta um pirolito



maria azenha
2010-05-13