31 maio, 2010

começar o poema de uma maneira diferente

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este é o mar.
antecedido pela areia inconstante
tornando-se mais fiel
à medida que se aproxima das águas
deste. deste que é o mar.
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picotado por madeiras curtas
e cordas grossas
labirintos desenhados / para os peregrinos de dunas
caminhadas
desesperos a superar
desgostos para sofrer
desejos por conhecer
dores de amores tidos e per
didos
este é o mar.
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alisado à beira-terra pelo rodo
das ondas. brancas.
desalinhado, por sua vez, pela elipse
das mesmas ondas. densas.
habitado pela ignorância humana
dos plásticos aos preservativos
sujos
habituado — até quando? —
ao desconsolo e ao desrespeito
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este é o mar.
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mundo de seres cromáticos guardadores do silêncio
fundos de seres com asas membranas e fios de luz
casa de plantas mágicas de ostras raras / deuses e fadas
que por respeito ao lastro de águas
devêm sereias, tágides, hárpias, tritões ou ninfas.
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este é o mar da consolação do olhar e da emoção.
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este é o reconforto para pacientes cascos nos duros invernos.
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este é o mar da diversão que vê nascer
quando o sol espreita
bolas e ringues e cordas e tudo o que faz o saltar,
a brincadeira.
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este é o mar da descoberta dos seios e receios mais escondidos.
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este é o mar da sedução
onde se depositam os primeiros
beijos de paixão.
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este é o mar.
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calmo e dançante.
calando, rugindo, silvando.
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este é.
o mar.
azul.
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maria toscano
Figueira da Foz, snack-bar marisqueira "Johnny Ringo"
15 Maio / 2010
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