21 maio, 2010
carta para o exílio
do que me escreves eu vejo a lua.
as palavras rondam um objecto insólito
crescem pêlo a pêlo das tuas órbitas.
fora do poema
jaz um cadáver com um véu de noiva,
o que é perfeitamente natural e honesto.
a entrada de um corpo em decomposição
carece de provas irrefutáveis.
não pode dizer-se simplesmente
entrou em decomposição,
porque o corpo pode ainda morrer.
de maneira que a noite deita-se a teu lado
e copulam livremente.
contudo,
a castração das fêmeas antes do primeiro cio
não resulta foneticamente.
repara.:
uma vaca a parir um filho
não sangra dos cotovelos.
alice macedo campos
o cilo menstrual da noite
edium editores, 2008