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"beija-me as mãos, amor, devagarinho" - Florbela Espanca
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poder tomar as tuas mãos nas minhas
acolhê-las, docemente, sem remorsos
assim só, com a ternura que a idade
me vem abrindo ensinando consentindo.
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poder tomar, entre as minhas mãos, as tuas.
pausadamente.
sem outros arrepios que os da pele.
segurar com firmeza a tua candura
embalar, solidária, essa tristeza
para que não volte mais a converter-se em amargura.
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é desta fé que se fazem os milagres.
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é deste gesto de colo que emana o fundo verso.
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é desta surda e louca maré incansável
que brotam os amores e as paixões imortais.
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frágil o tacto intenso toque. íntimos febris.
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ah poder vestir-me com o menino que te habita
escorregar pelo corrimão da compustura
correr de braços abertos por entre o vento
ganhar a velocidade da vida-luz
e reatar o meu diálogo com as luas
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vibrar em cada estrela
latejando.
meu corpo em espasmos reinventando os céus.
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confiar-me à nortada
e ser-lhe o sul
para onde sopra,
em ânsias,
apaixonada.
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esvoaçar-me em poros de árvores e pássaros
quando as asas transparentes se desfraldassem
com o febril enlace dos nossos corpos sábios.
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acolho as tuas mãos nas minhas. sem sussurros.
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a esta página ensinamos, docemente,
docemente ensinamos a loucura da paixão.
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maria toscano
12 Maio/ 2010.
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