O alfarrabista
Entrar pela estreita porta e quase
Invisível
No aparato capitalista da Broadway Avenue.
Avançar por entre pilhas de saber
No desfiladeiro do escuro corredor,
Lá como cá de soalho de tacos
Mais rudes que tejolos
Mas sentirmo-nos ainda assim
Na caverna de Platão,
Ávidos da realidade que no papel transpira.
As paredes revestidas por duas e três camadas de volumes,
A capa brilhante, plastificada, outros
Cerrados na clausura de profundas encadernações
De couro gravadas a lume.
E os dedos que ousam, como tentáculos,
Tocar ao vivo a Poesia.
Põe os óculos e busca algo como
«Poeta en Nueva York», do desgraçado Lorca,
A quem a selvajaria do Poder
Assassinou do modo mais atroz.
Porém, os dedos, em vez dele, acham por si sós
E logo à primeira tentativa de saque
Outra cena tão diferente...
Um velho, as brancas barbas, entalado entre
Jovem alfarrabista que ao computador escreve
E a barragem inexpugnável de livros,
Num banquinho rente ao chão sentado
O olhar azul-beatnik ergue para a intrusa,
Interpelando-a, sem recato:
- Porque é que Elisabeth Barret Browning
Deu a esse livro o título
de «Sonnets from the Portuguese»?
- Não sei -, responde a estrangeira,
Grata pelo contacto verbal que lhe soube a camoniano
- Mas levo comigo os sonetos porque sou portuguesa.
__________________________________________
*Maria Estela Guedes (Britiande, 21 de Maio de 1947) é uma escritora portuguesa, investigadora no Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL), tendo co-organizado edições do colóquio internacional Discursos e Práticas Alquímicas e os primeiros volumes das respectivas actas.
É igualmente administradora do site triplov.
Entrar pela estreita porta e quase
Invisível
No aparato capitalista da Broadway Avenue.
Avançar por entre pilhas de saber
No desfiladeiro do escuro corredor,
Lá como cá de soalho de tacos
Mais rudes que tejolos
Mas sentirmo-nos ainda assim
Na caverna de Platão,
Ávidos da realidade que no papel transpira.
As paredes revestidas por duas e três camadas de volumes,
A capa brilhante, plastificada, outros
Cerrados na clausura de profundas encadernações
De couro gravadas a lume.
E os dedos que ousam, como tentáculos,
Tocar ao vivo a Poesia.
Põe os óculos e busca algo como
«Poeta en Nueva York», do desgraçado Lorca,
A quem a selvajaria do Poder
Assassinou do modo mais atroz.
Porém, os dedos, em vez dele, acham por si sós
E logo à primeira tentativa de saque
Outra cena tão diferente...
Um velho, as brancas barbas, entalado entre
Jovem alfarrabista que ao computador escreve
E a barragem inexpugnável de livros,
Num banquinho rente ao chão sentado
O olhar azul-beatnik ergue para a intrusa,
Interpelando-a, sem recato:
- Porque é que Elisabeth Barret Browning
Deu a esse livro o título
de «Sonnets from the Portuguese»?
- Não sei -, responde a estrangeira,
Grata pelo contacto verbal que lhe soube a camoniano
- Mas levo comigo os sonetos porque sou portuguesa.
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*Maria Estela Guedes (Britiande, 21 de Maio de 1947) é uma escritora portuguesa, investigadora no Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL), tendo co-organizado edições do colóquio internacional Discursos e Práticas Alquímicas e os primeiros volumes das respectivas actas.
É igualmente administradora do site triplov.
Obra:
Teoria poética do conhecimento e prática de resistência ao silêncio. In Revista da Faculdade de Letras de Lisboa, IV série, n.º 2, 1978.
Crime no museu de philosofia natural. Lisboa, Guimarães, 1984.
Edição literária de: Carneiro, Mário de Sá. Obra poética de Mário de Sá Carneiro. Lisboa, Presença, 1985.
À sombra de Orfeu, sonetos, antologia (selecção e prefácio). Lisboa, Guimarães Editores, 1990.
Prof. G. F. Sacarrão. Lisboa, Museu Nacional de História Natural, Biblioteca do Museu Bocage, 1993.
Árvores, do nosso imaginário epistemológico, epífitas & não. Com Ana Luísa Janeira. Lisboa Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologgia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL), 1996.
Carbonários, operação salamandra, chioglossa lusitanica, Bocage, 1864. Com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto, 1998.
Divórcio entre cabeça e mãos?: Laboratórios de química em Portugal (1772-1955). Com Ana Luísa Janeira e Maria Estela Guedes. Lisboa, Escolar Editora, 1998.
Lápis de carvão. Lisboa, Apenas, 2005.
Links, entre virtude e virtual. Com Pedro de Andrade e Paulo Mendes Pinto. Revisão de Luís Filipe Coelho. Lisboa, Apenas Livros, 2006.
Messianismos. Com José Manuel Anes e outros. Lisboa, Apenas Livros, 2006. Ofício das trevas. Lisboa, Apenas Livros, 2006.
Poética:Herberto Helder, Poeta Obscuro; Eco/Pedras Rolantes; Crime no Museu de Philosophia Natural; Mário de Sá-Carneiro; A_maar_gato; Ofício das Trevas; À la Carbonara; Tríptico a solo; A Poesia na óptica da Óptica; Chão de Papel; Geisers.
Teatro:O Lagarto do Âmbar (Fundação Calouste Gulbenkian, 1987);
A Boba (Teatro Experimental de Cascais, 2008).
A Boba (Teatro Experimental de Cascais, 2008).
Algumas instituições a que pertence:
Associação Internacional de Críticos Literários
Associação Portuguesa de Escritores
Instituto S. Tomás de Aquino
Notas:
José Augusto Mourão, Maria Estela Guedes, Nuno Marques Peiriço & Raquel Gonçalves, organizadores Discursos e Prática Alquímicas. Vol. I. Hugin Editores, Lisboa, 2001. José Manuel Anes, Maria Estela Guedes & Nuno Marques Peiriço (organizadores) Discursos e Prática Alquímicas. Vol. II. Hugin Editores, Lisboa, 2002.
Associação Portuguesa de Escritores
Instituto S. Tomás de Aquino
Notas:
José Augusto Mourão, Maria Estela Guedes, Nuno Marques Peiriço & Raquel Gonçalves, organizadores Discursos e Prática Alquímicas. Vol. I. Hugin Editores, Lisboa, 2001. José Manuel Anes, Maria Estela Guedes & Nuno Marques Peiriço (organizadores) Discursos e Prática Alquímicas. Vol. II. Hugin Editores, Lisboa, 2002.