com Guerra Junqueiro
na varanda dos paços do concelho
evocação serena dos 100 anos da República
apenas os polícias nos dão as boas-noites
e há marujos na rua do Arsenal aflitos com o mar aos soluços e o rastro de
deusas lúbricas e nuas à caça de argonautas e aves de capoeira
é Outubro que vem no seu passo inquieto
apontando ao futuro outro chão de lacraus
não nos bastam, Junqueiro, as espadas que temos
os monstros sobrevivem entre o estrume dos curros
e deixam este Largo desabitado de fontes, de pássaros, de palavras enxutas
a muda consciência há-de roer a fímbria o sangue dos clamores – seu tronco,
é Outubro que vem no seu passo inquieto
apontando ao futuro outro chão de lacraus
não nos bastam, Junqueiro, as espadas que temos
os monstros sobrevivem entre o estrume dos curros
e deixam este Largo desabitado de fontes, de pássaros, de palavras enxutas
a muda consciência há-de roer a fímbria o sangue dos clamores – seu tronco,
sua seiva, seu clangor mais fundo, o aço de um fuzil sob o pólen dos séculos
e ficaremos mudos, a alma sem abrigo a evolar perdida no pelourinho ao fogo
só água e lama e rastros de manhãs nuns olhos subterrados
Deixa que a noite estenda os polegares do degelo e as putas exibam
bem mais duros os seios
Das tabernas se evole o cheiro acre das iscas e do vinho
e a esperança percorra outro grito sagaz inesperado
neste lugar onde a sede faz ninho nos magoados ossos do Inverno
zangaste-te com o País
e o país medroso, manhoso, de sotaina e sorna a mastigar latim pelas novenas
zangou-se contigo e com os teus versos
acontece aos melhores
...... o tempo tudo enxuga e estenderemos neles o sal da nossa fome
sonhaste um Portugal audaz, nítido e profundo
a lisa praia onde o mar se ergue num horizonte de funâmbulos e cristais de brisa
a aurora a deslizar pelas tardes fecunda interminável
um outro nome para dizer o humano o homem e o seu destino
estava tudo lá nos versos e nas fontes
o desespero, a revolta e as febres as fundas cicatrizes que erguem o porvir
um coração encostado aos impulsos da fala
nas raízes do sangue onde o poema habita
............- só de noite soubeste
............................................ o leite derramado no rastro das estrelas
.............que as palavras são um escasso labirinto
para fundear os sonhos
_____________________________________
* Domingos Lobo, nasceu em 1945. Frequentou a Faculdade de Direito da UL, mas a mobilização para a guerra colonial levou-o, com vantagem para o direito, a desistir.
Licenciado em Teatro e Animação Social e Comunitária. Mestrado em Estudos Portugueses.
Foi jornalista, crítico de teatro e cinema. Fundou, em 1971, o GATO _ Grupo de Acção Teatral de Oeiras, onde encenou, entre outros, Ibsen, Brecht, Ionesco, Luís Francisco Rebello, Andrés Lizarraga, Prista Monteiro, etc. Prémio de Melhor Encenador, no Festival de Teatro de Lisboa, em 1981.
e ficaremos mudos, a alma sem abrigo a evolar perdida no pelourinho ao fogo
só água e lama e rastros de manhãs nuns olhos subterrados
Deixa que a noite estenda os polegares do degelo e as putas exibam
bem mais duros os seios
Das tabernas se evole o cheiro acre das iscas e do vinho
e a esperança percorra outro grito sagaz inesperado
neste lugar onde a sede faz ninho nos magoados ossos do Inverno
zangaste-te com o País
e o país medroso, manhoso, de sotaina e sorna a mastigar latim pelas novenas
zangou-se contigo e com os teus versos
acontece aos melhores
...... o tempo tudo enxuga e estenderemos neles o sal da nossa fome
sonhaste um Portugal audaz, nítido e profundo
a lisa praia onde o mar se ergue num horizonte de funâmbulos e cristais de brisa
a aurora a deslizar pelas tardes fecunda interminável
um outro nome para dizer o humano o homem e o seu destino
estava tudo lá nos versos e nas fontes
o desespero, a revolta e as febres as fundas cicatrizes que erguem o porvir
um coração encostado aos impulsos da fala
nas raízes do sangue onde o poema habita
............- só de noite soubeste
............................................ o leite derramado no rastro das estrelas
.............que as palavras são um escasso labirinto
para fundear os sonhos
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* Domingos Lobo, nasceu em 1945. Frequentou a Faculdade de Direito da UL, mas a mobilização para a guerra colonial levou-o, com vantagem para o direito, a desistir.
Licenciado em Teatro e Animação Social e Comunitária. Mestrado em Estudos Portugueses.
Foi jornalista, crítico de teatro e cinema. Fundou, em 1971, o GATO _ Grupo de Acção Teatral de Oeiras, onde encenou, entre outros, Ibsen, Brecht, Ionesco, Luís Francisco Rebello, Andrés Lizarraga, Prista Monteiro, etc. Prémio de Melhor Encenador, no Festival de Teatro de Lisboa, em 1981.
Publicou:"Os Navios Negreiros Não Sobem o Cuando" (romance) - Vega; "Pés Nus na Água Fria" (romance) - Vega; "As Máscaras Sobre o Fogo" (romance) - Vega: "As Lágrimas dos Vivos" (contos) - Vega; "Voos de Pássaro Cego" (poesia) - Vega; "As Mãos nos Labirintos" (poesia) Sete Caminhos; "Quando os Medos Ardem" (teatro) - Garrido Editores; "Desconstrutor de Neblinas" (textos de leitura crítica) - Cosmos.
Organizou as antologias:
"Poetas Nossos - Poesia Popular do Ribatejo" - ed. CM de Benavente; "Exaltação do Prazer - poesia portuguesa Erótica, Burlesca e Satírica do Século XVIII"- Vega.
Está representado nas antologias:"Experiência de Liberdade" - ed. Diabril; "Contoário" - Escritor; "Guerra Colonial - Realidade e Ficção", org. Rui de Azevedo Teixeira - Ed. Notícias; "Guerra do Ultramar - Realidade e Ficção", org. Rui de Azevedo Teixeira - Ed. Notícias.
Está representado nas antologias:"Experiência de Liberdade" - ed. Diabril; "Contoário" - Escritor; "Guerra Colonial - Realidade e Ficção", org. Rui de Azevedo Teixeira - Ed. Notícias; "Guerra do Ultramar - Realidade e Ficção", org. Rui de Azevedo Teixeira - Ed. Notícias.
Tem textos de crítica literária publicados em:
"Escritor", "Revista Alentejo", "Seara Nova", "Vértice", "Jornal do Brasil", "EntreLetras" e "Foro das Letras".
"Escritor", "Revista Alentejo", "Seara Nova", "Vértice", "Jornal do Brasil", "EntreLetras" e "Foro das Letras".
Em 2009 recebeu as seguintes distinções:. Prémio nacional de teatro Bernardo Santareno 2009, com a peça original “Não deixes que a noite se apague”.
. “Prémio Literário Cidade de Almada/2009” com a obra inédita “Para Guardar o Fogo”,
. “Prémio Literário Cidade de Almada/2009” com a obra inédita “Para Guardar o Fogo”,
É presidente do Conselho Fiscal da APE.
Programador Cultural na Câmara Municipal de Benavente.