05 junho, 2010

descendo ao mar




no verão
quando as mulheres transportam nos cabelos
uma febre de madressilvas
incide sob as suas ancas
uma sede de vogais para pronunciar o mar.
são mulheres que vêm de longe
do lado da montanha
que guardou a grande ilusão dos verbos.

carregam poemas abandonados
a meio da noite quando os marinheiro mudam o rumo das velas
a cumprir o destino das sereias.
desfazem o olhar vertical dos naufrágios à beira rio
a orar para um céu mais perto.
incendeiam os ombros com os filhos do sol
e perturbam-se na visão integral dos búzios.


estremecem: o coração lavrado de algas.

depois ficam à espera
suspensas
com substantivos indizíveis
na funda boca dos abismos.


luísa henriques
Aveiro junho de 2010
t: v. sk