estou só.
vejo
os pratos de velhoses
outros de broas, travessas
à espera do bacalhau
copos para água para branco
outros para o tinto
e tantos mais para espumante
bruto
estou só.
vejo
milhões de velas
centros vermelhos
enlaçados em pinhas
fitas douradas
recobros de humanas vidas, duras vidas
pérolas
douradas pelas toalhas
espalham o brilho
que os dias de hoje não têm.
estou só.
vejo pendurar enfeites
anjos, luzes, faixas e
esperança
cuidadosamente
pendentes
nestes dias.
.
.
.
estou só no mundo
das maravilhas feitas em série
estou só na vereda
dos mercados do roubo anónimo
estou só no outono
onde a neve se vende em pó
porque trenó e renas
ficaram retidas no aeroporto.
.
.
.
estou só
sozinho neste mundo
só
eu e os meus.
Salvé o burrinho, a vaquinha
José, os Pastores!
Salvé Maria! Avé Maria
que me acompanham
desde sempre
no meu nascer
neste acre mundo
onde
ainda
continuo só.
.
.
.
maria toscano
Coimbra, Pastelaria Flor da Conchada.
22 Dezembro / 2010